A Economia Política da Crise Brasil-Bolívia
A Petrobras é uma empresa de economia mista controlada pelo Estado. Seu envolvimento na Bolívia se deu mais por razões políticas do que pela busca do lucro. Agiu por pressão do governo brasileiro, que queria fortalecer a influência sobre aquele país. Especialistas eram céticos quanto a possibilidades de grandes negócios, até que os técnicos da empresa descobriram que as reservas da Bolívia eram 10 vezes maiores do que se supunha.
José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, definiu a empresa como “a maior nação amiga do Brasil”. Cerca de 15% de seus investimentos são no exterior, a maioria na América Latina (México, Colômbia, Equador) e África Ocidental (Nigéria, Angola, Gabão). Os ativos na Bolívia representam apenas 1% do total da estatal.
Às vezes a diplomacia da nação amiga choca-se com a política externa brasileira. As surpreendentes reservas bolivianas de gás foram exploradas de maneira predatória, desrespeitando os direitos dos povos indígenas e causando sérios danos ao Meio Ambiente. Suponho que ninguém imaginava que aqueles bolivianos meio mortos de fome iriam reagir e desafiar o Grande Irmão brasileiro.
O gás é a melhor alternativa no curto prazo ao petróleo, mais barato e menos poluente. Só que é difícil de ser comercializado. Pode ser transformado em líquido e exportado por navios especiais, embora ainda seja um processo muito caro, que talvez fique razoavelmente barato em cerca de uma década.
A opção é transportá-lo via gasodutos. Gigantescos, caros, demoram a se pagar. O gasoduto Brasil-Bolívia tem 3.150 Km e custou US$2 bilhões. O projeto do “Gasoduto do Sul”, entre Venezuela e Argentina, tem 8 mil Km e está orçado em US$25 bilhões. Só governos podem se lançar em empreitadas desse tipo.
Venezuela e Bolívia são ricas em gás. Argentina e Peru também possuem reservas consideráveis. O Chile é pobre nesse recurso. E o Brasil? A descoberta do Campo de Mexilhão, em 2003, triplicou as reservas nacionais. Espera-se que o campo esteja em operação por volta de 2008.
A instabilidade política nos países da América do Sul vai empurrar o governo brasileiro para favorecer opções internas de abastecimento. Não me refiro apenas à crise com a Bolívia. Empresas privadas argentinas cortaram o fornecimento para os chilenos por conta de problemas domésticos. E sabe-se lá o que seria depender do gás peruano com um eventual governo Humala!
Mmm... tensões políticas em torno de disputas por recursos naturais.... Necessidade de cooperação.... Soa familiar? Que tal checar a história da Comunidade Européia do Carvão e do Aço. Instituição supranacional, criada para administrar conjuntamente riquezas vitais à economia, e embrião do processo de integração regional no Velho Mundo. Oxalá um dia possamos fazer algo semelhante no Novo, para lidar com petróleo e gás.
José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, definiu a empresa como “a maior nação amiga do Brasil”. Cerca de 15% de seus investimentos são no exterior, a maioria na América Latina (México, Colômbia, Equador) e África Ocidental (Nigéria, Angola, Gabão). Os ativos na Bolívia representam apenas 1% do total da estatal.
Às vezes a diplomacia da nação amiga choca-se com a política externa brasileira. As surpreendentes reservas bolivianas de gás foram exploradas de maneira predatória, desrespeitando os direitos dos povos indígenas e causando sérios danos ao Meio Ambiente. Suponho que ninguém imaginava que aqueles bolivianos meio mortos de fome iriam reagir e desafiar o Grande Irmão brasileiro.
O gás é a melhor alternativa no curto prazo ao petróleo, mais barato e menos poluente. Só que é difícil de ser comercializado. Pode ser transformado em líquido e exportado por navios especiais, embora ainda seja um processo muito caro, que talvez fique razoavelmente barato em cerca de uma década.
A opção é transportá-lo via gasodutos. Gigantescos, caros, demoram a se pagar. O gasoduto Brasil-Bolívia tem 3.150 Km e custou US$2 bilhões. O projeto do “Gasoduto do Sul”, entre Venezuela e Argentina, tem 8 mil Km e está orçado em US$25 bilhões. Só governos podem se lançar em empreitadas desse tipo.
Venezuela e Bolívia são ricas em gás. Argentina e Peru também possuem reservas consideráveis. O Chile é pobre nesse recurso. E o Brasil? A descoberta do Campo de Mexilhão, em 2003, triplicou as reservas nacionais. Espera-se que o campo esteja em operação por volta de 2008.
A instabilidade política nos países da América do Sul vai empurrar o governo brasileiro para favorecer opções internas de abastecimento. Não me refiro apenas à crise com a Bolívia. Empresas privadas argentinas cortaram o fornecimento para os chilenos por conta de problemas domésticos. E sabe-se lá o que seria depender do gás peruano com um eventual governo Humala!
Mmm... tensões políticas em torno de disputas por recursos naturais.... Necessidade de cooperação.... Soa familiar? Que tal checar a história da Comunidade Européia do Carvão e do Aço. Instituição supranacional, criada para administrar conjuntamente riquezas vitais à economia, e embrião do processo de integração regional no Velho Mundo. Oxalá um dia possamos fazer algo semelhante no Novo, para lidar com petróleo e gás.
4 Comentarios:
Mestre Igor,
assino embaixo de seus comentários. Eis o quadro que se anuncia:
1) A Petrobras permanece na Bolivia, com investimentos reduzidos ou paralisados, e pagando bem mais ao governo boliviano.
2) Por pressão do Planalto, o aumento NÃO é repassado aos consumidores, pelo menos até as eleições presidenciais.
3) Evo aproxima-se de Chávez em busca de investimentos e auxílio técnico da PDVSA para reestruturar a estatal boliviana YPFB.
4) A oposição usa os problemas na integração sul-americana para bater em Lula na campanha, mas isso terá pouco resultado eleitoral. Política externa não dá nem tira votos, a menos que dona Maria não conseguisse cozinhar o feijão porque faltou gás.
Abraços
Olá, Maurício.
Olha, compartilho com você a esperança de que algo como a CECA possa ser feito na América do Sul. Mas enxergo duas dificuldades:
1 - O trauma devastador das duas guerras mundiais era um incentivo incomparável para as negociações.
2 - A integração euopéia foi feita na "idade do ouro" do capitalismo (década de 50 e 60), uma era de crescimento longo e estável que permitiu inclusive a construção de welfare-states bem generosos. A conjuntura atual (com Bush II ameaçando o Irã, petróleo perigando chegar aos U$ 100 e outra cositas más) não é assim tão alvissareiro, principalmente pra América Latina e suas mazelas.
Enfim, acho muito interessante que o Brasil se esforce por soluções nesse sentido, de administração compartilhada de fontes energéticas e matérias primas. Mas tem que levar em conta essas dificuldades pra fazer a coisa num ritmo realista.
De resto, concordo bastante com a sua análise. Principalmente a observação sobre Dona Maria, os feijões e o gás. ;)
Salve, Edson.
Como diz meu orientador de doutorado, às vezes um pouquinho de perigo comunista não faz mal a ninguém. Com certeza a ameaça representada pela URSS foi fundamental para que os europeus superassem suas rivalidades. Em nossa América, falta algo assim.
As primeiras tentativas de cooperação aconteceram no contexto do Plano Marshall - a criação da OCDE - e isso também ajudou.
Será que as eternas crises econômicas latino-americanas podem ser um incentivo semelhante à integração? No sentido de que, sem ela, esses países não vão a lugar algum?
Abraços
coloca coisas novas ae , porque ta um lixo só essas informações.
Postar um comentário
<< Home