sábado, abril 29, 2006

A Lula e a Baleia



Noah Baumbach. Anote o nome, se você gosta de cinema. Seu “A Lula e a Baleia” é um dos filmes mais interessantes que entraram em cartaz neste ano, um drama sobre relacionamentos, com toques de comédia, que supera inclusive muito da produção recente de mestres do gênero, como Woody Allen.

O enredo, semi-autobiográfico, fala sobre a separação de um casal de intelectuais de Nova York, e o impacto do acontecimento nos dois filhos adolescentes. O marido é um escritor que fez furor na juventude, mas atravessa um período de ostracismo. Quando a mulher desponta como uma autora de sucesso, o casamento (que já não ia bem) desaba. O filho mais velho fica do lado do pai, o caçula apóia a mãe.

O filme consegue ser doce, amargo, triste e alegre ao contar como a família tenta lidar com a situação. A mãe buscando esportistas que são o oposto do ex-marido, o pai envolvendo-se com uma de suas alunas, o filho mais velho assumindo sem perceber muitas das atitudes arrogantes de intelectuais (ô raça!) e o caçula entrando num surto de erotismo preoce.

Belo filme. Aguardo o próximo do sr. Baumbach.

***

Outra boa pedida em cartaz é “Não é você, sou eu”, raro exemplar de comédia romântica argentina que chega aos cinemas brasileiros. Um casal planeja emigrar para os EUA. A mulher vai na frente, enquanto o homem se desfaz do apartamento, vende o carro e deixa o emprego. Mas quando a esposa se apaixona por outro homem em Miami, ele precisa aprender a recomeçar.

O protagonista é um excelente ator que eu não conhecia, Diego Peretti, com um narigão que só não é maior do que seu talento para a comédia. O inteligente roteiro consegue escapar da maioria dos clichês do gênero, na realidade extrai seu humor justamente da tentativa fracassada do personagem principal viver segundo esses clichês.

Há toques deliciosamente portenhos, como as ótimas seqüências de psicanálise (uma mania nacional argentina) e o título - só no país de Cortazar e Maradona se usa “vos” em vez de “tu”, para irritação dos hispanohablantes dos outros cantos do mundo.

“Esse é só uma comédia romântica, não tem nada de política!”, disse a amiga que recomendou o filme. Sei não. A mensagem da história: é necessário parar de idealizar o passado, que no fundo nem era tão bom, e enfrentar de peito aberto as possibilidades do presente. Recomeçar. Não é uma excelente descrição do espírito “Argentina, Ano Zero” que sucede a grande crise de 2001?

1 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Gostei muito de "A Lula e a Baleia". Não chego a comparar com Woody Allen, pois não é tão engraçado quanto ele, mas é muito bom.

O que eu achei interessante foi esse retrato do mundinho intelectual de Nova York quase como uma redoma em que parece que o tempo não passou. O filho mais velho tem 17 anos e ainda é virgem. E consegue apresentar uma canção conhecidíssima do Pink Floyd como de sua autoria, numa apresentação da escola, sem que ninguém note que não é dele...

abril 29, 2006 1:04 PM  

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