quinta-feira, abril 27, 2006

Les Gringos Sont Arrivés



Há uma guerra sendo travada em Santa Teresa. Quem passa pelas tranqüilas ruas do meu bairro talvez não perceba, mas as facções rivais começam a se armar e trocam insultos e processos judiciais.

Isso porque os franceses (e outros estrangeiros, em menor número) invadiram Santa Teresa. Estão por toda parte. Compraram casarões antigos e os transformaram em ateliês. Vieram como hóspedes nas pensões do tipo "cama e café". Engajaram-se em projetos sociais. E, acima de tudo, iniciam um invesitmento milionário, comprando um velho hotel que será transformado num cinco estrelas.

Pertenço ao grupo pró-gaulês. Minha casa está no epicentro da Petite France em Santa Teresa. O hotel comprado fica a dois minutos do meu apartamento e estou feliz com a segurança 24 h que a rede hoteleira irá instalar. Na minha rua também tenho vizinhos franceses, simpáticos e gente boa. Sempre é legal saber que pessoas acham seu bairro tão bonito que atravessam o Oceano para vir morar nele.

Mas há muita gente ressentida com a chegada dos novos moradores. Reclamam que o preço dos restaurantes aumentou muito (é verdade, os valores do cardápio do Sobrenatural fazem jus ao nome do lugar). Os aluguéis também podem subir. Queixam-se de que só escutam línguas estrangeiras nas ruas do bairro. Reclamam de que as obras e empreendimentos imobiliários vão descaracterizar a tradição arquitetônica de Santa. Ou é simplesmente a desconfiança diante do Outro, do estranho, do estrangeiro. Testemunhei brigas homéricas - engraçadíssimas - dentro dos ônibus que cortam o bairro.

Há sempre alguém que começa a atacar os estrangeiros e recebe uma saraivada de críticas em troca. Os confrontos me fazem lembrar comentáirios do diplomata e escritor britânico Harold Nicolson, para quem o aumento do turismo, das viagens de
negócios e de outras formas de contato pessoal internacional não
contribuiriam necessariamente para o entedimento entre os povos. O sujeito é maltratado por um garçom em Berlim e volta à Inglaterra odiando os alemães, escreveu Nicolson. Estou descobrindo que muitos dos meus vizinhos são tão xenófobos quanto Jean Marie Le Pen - felizmente, um francês que não dá as caras por Santa.

Até a associação de moradores caiu nessa. Está correndo um abaixo-assinado que mistura problemas do bondinho e de outros meios de transporte até a questão do hotel dos franceses. Tudo misturado no mesmo documento. Complicado.

Alors, que venham os franceses. Não duvido que a combinação de grana e tradições cívicas que trouxerem na bagagem irão sacudir a poeira do bairro e ajudar a fazer de Santa Teresa um lugar melhor, mais rico em diversidade humana, com mais atividades culturais.

4 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Se fosse aquele tipo de turismo predatório, como aquelas hordas de turistas destruindo santuários naturais, eu entenderia a reação.

Mas, pelo que pude observar, os gringos estão indo pra Santa Tereza pensando em manter o estilo do bairro, e não mudá-lo. Aliás, é isso que os atrai.

Infelizmente não consta no site da associação de moradores o abaixo-assinado a que você se referiu.

abril 27, 2006 8:38 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Imigração de gente rica sendo algo ruim é novidade pra mim. Aqui o povo reclama dos refugiados e de gente que vem explorar os benefícios do sistema público de suporte aos cidadãos... :)

abril 28, 2006 6:27 AM  
Blogger Glauco Paiva said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Tá, mas.... eles pelo menos tomam banho, não?

abril 28, 2006 3:33 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Caros amigos,

de modo geral os franceses que chegam ao bairro são gente boa e acho que vieram para o bem. Quanto à pergunta do Glauco, me parece que a resposta é "de vez em quando".

Igor, eu adoro o Delacroix. Mestre Hobsbawn tem um texto fantástico sobre esse quadro, a mulher que segura a bandeira nas barricadas foi inspirada numa prostituta que marcou época na Revolução de 1830. Sempre que vejo essa pintura tenho vontade de cantar a Marselhesa!


Au Revoir!

abril 28, 2006 4:41 PM  

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