Les Gringos Sont Arrivés
Há uma guerra sendo travada em Santa Teresa. Quem passa pelas tranqüilas ruas do meu bairro talvez não perceba, mas as facções rivais começam a se armar e trocam insultos e processos judiciais.
Isso porque os franceses (e outros estrangeiros, em menor número) invadiram Santa Teresa. Estão por toda parte. Compraram casarões antigos e os transformaram em ateliês. Vieram como hóspedes nas pensões do tipo "cama e café". Engajaram-se em projetos sociais. E, acima de tudo, iniciam um invesitmento milionário, comprando um velho hotel que será transformado num cinco estrelas.
Pertenço ao grupo pró-gaulês. Minha casa está no epicentro da Petite France em Santa Teresa. O hotel comprado fica a dois minutos do meu apartamento e estou feliz com a segurança 24 h que a rede hoteleira irá instalar. Na minha rua também tenho vizinhos franceses, simpáticos e gente boa. Sempre é legal saber que pessoas acham seu bairro tão bonito que atravessam o Oceano para vir morar nele.
Mas há muita gente ressentida com a chegada dos novos moradores. Reclamam que o preço dos restaurantes aumentou muito (é verdade, os valores do cardápio do Sobrenatural fazem jus ao nome do lugar). Os aluguéis também podem subir. Queixam-se de que só escutam línguas estrangeiras nas ruas do bairro. Reclamam de que as obras e empreendimentos imobiliários vão descaracterizar a tradição arquitetônica de Santa. Ou é simplesmente a desconfiança diante do Outro, do estranho, do estrangeiro. Testemunhei brigas homéricas - engraçadíssimas - dentro dos ônibus que cortam o bairro.
Há sempre alguém que começa a atacar os estrangeiros e recebe uma saraivada de críticas em troca. Os confrontos me fazem lembrar comentáirios do diplomata e escritor britânico Harold Nicolson, para quem o aumento do turismo, das viagens de
negócios e de outras formas de contato pessoal internacional não
contribuiriam necessariamente para o entedimento entre os povos. O sujeito é maltratado por um garçom em Berlim e volta à Inglaterra odiando os alemães, escreveu Nicolson. Estou descobrindo que muitos dos meus vizinhos são tão xenófobos quanto Jean Marie Le Pen - felizmente, um francês que não dá as caras por Santa.
Até a associação de moradores caiu nessa. Está correndo um abaixo-assinado que mistura problemas do bondinho e de outros meios de transporte até a questão do hotel dos franceses. Tudo misturado no mesmo documento. Complicado.
Alors, que venham os franceses. Não duvido que a combinação de grana e tradições cívicas que trouxerem na bagagem irão sacudir a poeira do bairro e ajudar a fazer de Santa Teresa um lugar melhor, mais rico em diversidade humana, com mais atividades culturais.
4 Comentarios:
Se fosse aquele tipo de turismo predatório, como aquelas hordas de turistas destruindo santuários naturais, eu entenderia a reação.
Mas, pelo que pude observar, os gringos estão indo pra Santa Tereza pensando em manter o estilo do bairro, e não mudá-lo. Aliás, é isso que os atrai.
Infelizmente não consta no site da associação de moradores o abaixo-assinado a que você se referiu.
Imigração de gente rica sendo algo ruim é novidade pra mim. Aqui o povo reclama dos refugiados e de gente que vem explorar os benefícios do sistema público de suporte aos cidadãos... :)
Tá, mas.... eles pelo menos tomam banho, não?
Caros amigos,
de modo geral os franceses que chegam ao bairro são gente boa e acho que vieram para o bem. Quanto à pergunta do Glauco, me parece que a resposta é "de vez em quando".
Igor, eu adoro o Delacroix. Mestre Hobsbawn tem um texto fantástico sobre esse quadro, a mulher que segura a bandeira nas barricadas foi inspirada numa prostituta que marcou época na Revolução de 1830. Sempre que vejo essa pintura tenho vontade de cantar a Marselhesa!
Au Revoir!
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