A Arma da Casa
Descobrir uma escritora é um duplo prazer: a satisfação imediata de ler um bom livro e a alegria antecipada pelos tesouros que nos aguardam no resto da obra da autora. “A Arma da Casa” me apresentou a Nadine Gordimer, um dos dois prêmios Nobel de literatura da África do Sul.
Harald e Cláudia são um pacato casal de classe média alta: executivo de uma firma de seguros e médica. A tranqüilidade familiar vem abaixo quando Duncan, o filho único, se torna réu confesso num processo por assassinato. O enredo poderia ser um excelente suspense de tribunal. É mais do que isso: um retrato dos turbulentos primeiros anos do governo Mandela.
O casal de protagonistas não aprovava o apartheid, mas jamais esboçou um ato de oposição ao regime. A família se julgava um modelo de amor, progressismo e respeito às leis. O crime cometido pelo filho rasga o véu de silêncio e hipocrisia que ocultara tantas coisas naquela casa. E naquela sociedade.
Os pais são forçados a defrontar-se com os novos tempos, simbolizando no advogado de Duncan, Hamilton – negro, ex-militante contra o apartheid, que estudou Direito na Inglaterra enquanto estava exilado. De volta à África do Sul, vira uma estrela dos tribunais. A seqüência em que Harald e Claudia vão a uma festa da casa do advogado é brilhante, com a mistura, proximidades e tensões entre a velha elite branca e classe média negra em ascensão.
“A Arma da Casa” é uma obra-prima, uma junção perfeita do drama familiar com o contexto social da África do Sul, no qual a violência está sempre à espreita. A cultura do medo é decisiva para o desfecho da trama e faz pensar muito nas semelhanças com a realidade brasileira.
4 Comentarios:
Parece ótimo; vou procurar o livro por aqui. O outro Nobel da África do Sul é o Coetzee, né? Eu só sabia dele. :)
Salve, Nica.
O livro é ótimo, o título orignal é The House Gun. Fiquei curioso para ler Nadine em inglês e ver se o modo como ela usa o idioma é muito diferente dos autores dos EUA ou da Inglaterra.
O outro Nobel sul-africano é o Coetzee, que ainda não li, mas o "Desonra" está bem no topo da minha lista.
Beijo
Mmmm... meus colegas de profissão podem não concordar, mas a ciência política é, na realidade, uma arte. Um bom romance com freqüência te ensina mais do que um tratado acadêmico.
E eu visito seu blog, só que ainda não deixei comentários! Prometo fazê-lo em breve!
Abraços
Igor,
depois dessa, o mínimo que posso fazer é te emprestar o livro. Dou aula na UCAM no próximo dia 13.
BB, comprei hoje na feira do livro o "Amigos Absolutos" do Le Carré, que você me recomendou. "À Espera dos Bárbaros" acabou de ser lançado no Brasil e teve boas resenhas.
Abraços
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