O Fim de West Wing
Política é para nossa geração a mais nobre das aventuras
John Kennedy
Ontem foi exibido no Brasil o último capítulo da série The West Wing, que chegou ao fim após sete anos retratando o cotidiano da Casa Branca e a rotina dos assessores presidenciais. Foi sem dúvida um dos melhores programas de TV já realizados, vencedor de inúmeros prêmios por seus roteiros impecáveis e atuações brilhantes.
Admiro o respeito que os EUA demonstram por suas instituições no cinema e na TV. West Wing é quase religiosa em sua veneração pela Presidência e pela Constituição – não por acaso os cientistas sociais americanos, como Robert Bellah, falam da “religião cívica” que inspirou a formação do país. In God – and George Washington, and Thomas Jefferson – we trust.
É evidente que muito desse sentimento é idealização exagerada que mascara realidades de corrupção e mesquinharia. A democracia americana sofre de males semelhantes aos que afetam a brasileira: financiamentos escusos de campanha, lobbies descontrolados que reforçam a concentração econômica, um mau sistema de representação parlamentar, etc.
Na série, todos os personagens – republicanos e democratas – são honestos em seus ideais e propósitos, mesmo quando cometem erros. A equipe do presidente pode discordar entre si, mas não há competição interna pelo poder, as punhaladas e traições tão comuns na vida política. Bruta diferença com relação à vida, mas Aristóteles já escreveu que a tragédia deveria retratar os homens melhores do que são na realidade, para despertar nossa piedade e terror.
Mas West Wing é um drama, não uma tragédia. Não há destino inexorável conduzindo os personagens rumo ao abismo. Eles agem em situações de crise, precisam fazer escolhas rápidas com poucas informações disponíveis, sofrem de estresse e abrem mão de pontos importantes em sua vida pessoal. Às vezes se arrependem, às vezes mudam de opinião e adotam outro rumo.
O último capítulo foi exemplar, centrado na cerimônia em que o presidente Jed Bartlet (Martin Sheen) passa o cargo a seu sucessor, o hispano-americano Mathew Santos, marcando assim o início de uma nova era política. Mas estamos numa democracia sólida, que não precisa de Messias. Há tradições, rituais e instituições que governam os homens e ditam as regras do jogo. Ao fim, os antigos ocupantes do poder retornam à vida privada como cidadãos comuns, exemplificado pela chefe de gabinete, C. J. Cregg, que deixa a Casa Branca a pé e é abordada por um homem na rua “Você trabalha aí dentro? Deve ser incrível!”. Ela responde que não trabalha e se afasta lentamente.
Alguém sabe o que a Warner fará com a série? Reapresentará as temporadas antigas? Tirará o programa do ar?
7 Comentarios:
Gosto muito dessa série, mas só a assisto dublada, no SBT.
Até por ser idealizada, ela nos dá uma idéia de como deveria ser a política num ambiente democrático.
Acho bem legal o fato do presidente Bartlett estar sempre atento às entrelinhas de seu discurso. Ele não se vê apenas como o administrator de um estado, mas um difusor de valores republicanos (não me refiro ao Partido Republicano, é claro).
Sobre a rapidez na tomada de decisões, eu lembro de um episódio onde a assistente de um dos assessores do Secretário de Estado fica espantada que, após três minutos de discussão sobre um assunto importante, esta é encerrada. Seu chefe diz assim: "eu já convenci o Secretário de Estado, cabe a ele convencer o Presidente. Já fiz meu trabalho".
Enquanto isso, no Brasil, coisas como a reforma universitária demoram um mandato inteiro para ser decididas...
Marcus,
O Bartlett é formado em teologia, então ele tem sempre um caráter de pregar valores, os tais da "religião cívica" dos EUA.
Júlio,
não vi o episódio que você citou, mas fiquei curioso. E na torcida para que a Warner me dê o presente de reprisar as temporadas iniciais da série.
Abraços
West Wing nunca me encantou, mas tenho acompanhado Commander in Chief e não tem nada disso de todo mundo ser honesto e bonzinho - é um metendo a faca nas costas do outro o tempo todo. :)
Oi, Júlio.
Valeu, mas só tenho DVD. De repente pego emprestado com o JD.
Nica,
estou curioso pela Comandante-em-Chefe, mas não quero me pegar torcendo por uma republicana!
Abraços
Ela não é republicana, é independente! :)
Mmmm... acho que então vou dar uma espiadinha na série.
Bjs
Salve, Júlio.
Ganhei um aparelho de DVD dos meus pais. Mas o Oldboy já entrou na programção do Telecine, embora até agora eu não tenha conseguido assistir ao filme.
Abs
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