Free Zone
Você compraria carros usados de seu inimigo?
“Free Zone”, novo filme do israelense Amos Gitai, conta a história de três mulheres de nacionalidades diferentes cujas vidas se cruzam na corrente de ódio e interdependência econômica do conflito no Oriente Médio. O resultado é um interessante ponto de vista feminino sobre o furacão político da região.
Rebeca, interpretada por Natalie Portman (atriz nascida em Jerusalém) é uma turista americana em Israel, que entra em crise após romper o noivado. Ela acaba no táxi de Hannah (Hannah Laslo, popular comediante israelense, premiada em Cannes por seu desempenho neste filme) que tem negócios a resolver na Jordânia. “Me leve com você”, ela pede. As duas embarcam numa viagem à Zona Livre jordaniana, uma área de livre comércio onde Hannah tem uma complicada pendência comercial a resolver com a palestina Laila (Hiam Abbass).
Nenhuma das três mulheres é ativista política, mas o conflito árabe-israelense está presente o tempo todo e se intromete em seu cotidiano. Rebeca, filha de pai árabe e mãe americana, está em busca de uma identidade e acha que não pertence a lugar algum. Hannah passa por dificuldades econômicas porque as duas Intifadas (as revoltas palestinas contra a ocupação israelense) a privaram da mão-de-obra barata para sua pequena empresa e diminuíram o fluxo de turistas. Laila passa por um relacionamento conturbado com o enteado, que flerta com o radicalismo islâmico.
O filme é o melhor de Gitai em muitos anos, mas aviso que não é para todos os gostos. O cinema do Oriente Médio tem um ritmo bem mais lento. Por exemplo, a longa seqüência inicial mostra a personagem de Natalie chorando durante uns 5 ou 10 minutos enquanto ao fundo toca uma música que parece uma canção popular no estilo “A Velha a Fiar”, mas no que fim se mostra um libelo contra o ciclo vicioso de ódio - tudo a ver com a mensagem do filme.
Fiquei impressionado com as mensagens agressivas a “Free Zone” nos fóruns de discussão na Internet. Parece que o público está tão acostumado ao formato be-a-bá do cinema convencional que perdeu a sensibilidade para assistir a filmes que sejam mais questionadores e abertos. Em Amos Gitai o Gorpo não aparece no fim para dizer ao espectador o que foi aprendido na sessão.
3 Comentarios:
Também me causa perplexidade a reação do público, talvez porque o filme destaque o inconcebível relacionamento entre mulheres completamente diferentes, reunidas pelas circunstâncias. Porém, há de se reconhecer que essa filmagem é um bom exemplo de como as fronteiras políticas podem ser ultrapassadas.
Tu sabias que a equipe de produção foi expulsa do muro das lamentações em jerusalém. Teve uma cena de um beijo. religiosos judeus que rezavam no local sagrado se sentiram ofendidos com a situação e expulsaram atores e equipe de lá. hehehe
Não acho que esse filme tenha distribuidor aqui na Inglaterra - procurei na fonte (IMDB), e nada. :(
Salve, Elenara, estava sentindo falta dos seus comentários por aqui. A quantas anda o projeto dos seminários?
Concordo totalmente com o que você disse. Tinha lido sobre o conflito durante a filmagem, mas ao que me lembre a cena do beijo acabou não entrando.
Não sei até que ponto isso tem a ver com o direitor Amos Gitai ser um cara muito crítico aos ultra-ortodoxos. O filme anterior dele, "Kadosh", era sobre a situação das mulheres nessa corrente.
Querida Nica,
o Gitai é um cineasta bem prestigiado, mas em geral está no circuito de "filmes de arte" ou cineclubes. Com um pouco de sorte você o encontra.
Beijos
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