Deus e o Diabo na Terra do Cedro
De todos os atores envolvidos no conflito atual, o Hezbolá talvez seja o menos conhecido dos analistas. Daí a importância do artigo de Fred Haliday, professor de relações internacionais na London School of Economics, que narra seu encontro com líderes do grupo em Beirute, em 2004.
Haliday sintetiza os principais fatos da história do Hezbolá. O grupo foi criado a partir da junção de diversas associações xiitas no Líbano, influenciadas pela:
1) Revolução Islâmica no Irã (1979), conduzida por xiitas.
2) Resistência à invasão israelense do Líbano (1982-2000)
3) Reação à discriminação e maus-tratos que sofreram de outros grupos no Líbano, em particular das elites cristãs e sunitas libanesas, e dos palestinos da OLP que montaram bases no sul do país, para atacar Israel.
O Hezbolá foi responsável por alguns dos piores atentados terroristas no Oriente Médio, como o ataque ao quartel dos fuzileiros navais dos EUA em Beirute, que levou ao fracasso da força de paz no Líbano. O grupo também cometeu atrocidades no exterior, como as bombas em associações judaicas de Buenos Aires. Tem ligações profundas com Irã e Síria, de quem recebe armas, dinheiro e treinamento.
O Conselho de Relações Exteriores dos EUA estima que o Hezbolá tenha assassinado 800 pessoas ao longo de 25 anos. Israel matou cerca de 350 em duas semanas de bombardeio ao Líbano.
À semelhança do Hamas, o Hezbolá também criou uma rede de assistência social com escolas e hospitais. Ao se lançar na política pardiária, conquistou um pouco menos de 20% do parlamento e tem dois ministros no gabinete que governa o Líbano. (foto: o secretário-geral do grupo, Hassan Nasrallah).
As questões: qual o grau de apoio ao Hezbolá entre a população libanesa, particularmente entre os cristãos e sunitas? Essas pessoas irão culpar o grupo pelos ataques de Israel ou irão se aliar diante do inimigo comum? Anteriormente, Israel conquistou aliados no caleidoscópio libanês, em particular entre as milícias cristãs.
Também existe a possibilidade de que o Hezbolá se fragmente em diversas facções, algumas recuando para Síria e Irã, outras continuando os ataques a Israel. Esse tem sido o padrão na Palestina (onde existem mais de 10 grupos armados atuantes). Houve o mesmo no Iraque, com o colapso do Partido Baath em mais de 40 organizações. Claro que é muito mais difícil chegar a qualquer acordo com tantos movimentos diferentes.
Israel tem afirmado que não é possível negociar com terroristas, que atuam de forma cruel e desumana. Antes do ataque do Hezbolá aos fuzileiros, o recorde de violência em atentados era a destruição do Hotel Rei Davi, a sede do poder militar britânico na Palestina. O grupo responsável era de ativistas judeus pró-independência: o Irgun, que também tentou assassinar líderes estrangeiros, como o primeiro-ministro alemão Konrad Adenauer. Com a criação do Estado de Israel, o Irgun foi dissolvido e seus militantes entraram para o Exército.
O líder do Irgun, Menachem Begin, fez carreira política e foi eleito primeiro-ministro. No governo, assinou o importante acordo de paz com o Egito, ganhou o Nobel da Paz e depois ordenou a invasão do Líbano em 1982. Morreu isolado do mundo e em depressão, atormentado por seus fantasmas.
5 Comentarios:
Talvez se a gente continuar a pressionar por coerência, quem sabe ela um dia apareça...
Abraços
Maurício, quem tentou matar o Adenauer não foi a Stern Gang do Ytzhak Shamir?
Salve, Paulo.
Até onde sei foi o Irgun, mas o Grupo Stern também era barra pesada.
Abraços
Concordo com o teor do comentário. Norberto Bobbio chamou a atenção para esta questão: não basta que a guerra seja justa, é preciso que os meios sejam razoáveis. Israel quer destruir o Hizbolah, mas irá provocar uma catastrofe humanitária. Isto tem nome: crime de guerra. Mas tenho pena dos libaneses, vítima da loucura dos próprios compatriotas. O Hizbolah está destruindo o Líbano com sua insensatez. Qual o interesse do Líbano em prender soldados israelenses? Pura burrice. Os cristãos e sunitas libaneses estão putos com o Hizbolah, mas não podem fazer nada. E Israel vei levar até o fim a mortandade de civis. Meu medo é que tragam para o Brasil esta sandice. Foz do Iguaçu já é um reduto muçulmano. Em breve teremos problemas por conta destes tontos.
Anônimo,
Pelo que conheço da história dos xiitas no Líbano, são um grupo tão discriminado que devem ter pouca identificação com o país como um todo. Eles estão lutando uma "guerra por procuração" com Israel, a serviço da Síria e do Irã.
O Guardian noticia que os libaneses estão recusando dar abrigo aos refugiados xiitas, por julgarem que eles são responsáveis pela guerra.
Nos blogs libaneses, também salta aos olhos as tensões que explodem pelo país. Há risco concreto do retorno da guerra civil.
A The Economist escreveu em editorial que este é um conflito que ninguém pode vencer, e concordo coma revista. Um Líbano destruído e em guerra civil será, como o Iraque, um imã ao terrorismo e representará uma ameaça reforçada a Israel.
abraços
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