O Hezbolá Venceu
Entrou em vigor (com violações esporádicas) o cessar-fogo acordado a duras penas na ONU. O resultado da guerra é claro: o Hezbolá venceu. Resistiu ao bombardeio aéreo e derrotou a invasão terrestre, levando seu inimigo à mesa de negociações. E durante toda a guerra, continuou a atacar o território israelense com seus foguetes. Hassan Nasrallah conseguiu a maior conquista militar árabe desde que Nasser rechaçou o ataque conjunto de Israel, França e Egito contra o Canal de Suez em 1956.
Claro, o Líbano está em ruínas. Muitos habitantes do país devem detestar o grupo, pela destruição que atraiu, mas certamente há também muitos que o idolatram pela derrota que impôs a Israel. E mesmo os opositores do Hezbolá devem estar impressionados pela máquina de assistência social que começou a distribuir US$12 mil por família. Quanto Israel distribuiu? Pois é.
O Hezbolá foi bem-sucedido porque construiu uma impressionante rede de túneis e abrigos subterrâneos, que utilizou para esconder seus combatentes e contra-atacar o exército de Israel, em clássicas operações de guerrilha. Pouco antes da guerra desbaratou uma célula de espionagem israelense, prendendo mais de 70 pessoas, o que ajuda a explicar a má qualidade das informações disponíveis para as forças armadas desse país.
Ninguém perde uma guerra impunemente, ainda mais em Israel, onde a sobrevivência do Estado depende da perícia militar. Começou a caça às bruxas no país, em busca dos culpados pela derrota. O parlamento ameaça Olmert com CPI e os artigos jornalísticos criticam as Forças Armadas, a liderança política e a própria sociedade. O mais interessante que li foi o de Yossi Sarid.
Devo ao Alexandre a indicação do melhor artigo sobre a guerra, a análise dos bastidores do conflito escrita pelo veterano jornalista Seymour Hersh. Sua conclusões:
• Israel e EUA viram na guerra contra o Hezbolá o prelúdio para o conflito no Irã, tentando desarmar um aliado de Teerã e intimidar aquele regime.
• O governo Olmert se precipitou e foi à guerra com pouco planejamento e informação inadequada, ignorando o alto grau de preparo, armamento e treinamento do Hezbolá.
• Israel acreditou que poderia vencer a guerra apenas com o bombardeio aéreo, numa interpretação errônea de como essa estratégia foi utilizada com sucesso pelos EUA no Kosovo.
• A guerra provocou divisões no próprio governo Bush, com o secretário de Defesa Donald Rumsfeld e a secretária de Estado Condoleezza Rice mostrando-se reticentes com o conflito.
Agora é ver como será o cessar-fogo. A ONU nunca conseguiu garantir a paz no Líbano e o exército nacional, de maioria xiita, é bastante simpático ao Hezbolá. Ou seja, acredito que o grupo manterá liberdade de ação, embora imagine que aproveitará o período para se re-organizar e receber mais armas.
A foto: um anúncio premiado para a ONU, que mostra uma granada de porcelana com a inscrição “Peace is fragile.” É mesmo.
3 Comentarios:
essa bela granada de procelana impressiona mesmo, diz tudo, que idéia maravilhosa. Enquanto aos vencedores de mais uma tão cruel guerra...veremos, ojalá! mas sou cética demais para acreditar na permanência de uma pax hezbolense no Líbano, pobre Líbano!
bjs, a.
Bem, vitórias só duram até a derrota seguinte.... No Oriente Médio, raramente leva mais do que alguns anos.
Abs
Salve, Igor.
O anúncio é mesmo ótimo. A publicidade tem um tremendo potencial, ainda pouco explorado, para lidar com causas sociais.
A capa da The Economist desta semana é exatamente sobre a vitória do Hezbolá. Acho que vou proecessá-los por plágio.
Por falar nisso, o governo brasileiro está usando os mesmos argumentos sobre biocombustível e comércio que você citou no seu último email para mim. Depois conversamos sobre isso, mas acho que você está pautando os caras.
Abraços
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