O Sol - Caminhando Contra o Vento
"Tire o sol da parede, para entrar o cafuné", disse o dono do cinema. Sorri. Nada como Santa Teresa. Um bairro em que as ruas têm nome como "Constante Jardim" ou "Monte Alegre" é o lugar ideal para assistir a um filme chamado "O Sol - caminhando contra o vento", documentário dirigido por Tetê Moraes e Martha Alencar. O tema é o jornal experimental editado por seis meses em 1967, por uma geração de jovens que se destacaria nos anos seguintes na cultura, jornalismo e política.
"O Sol" é um filme de turma, de tribo. A parte mais saborosa do documentário é justamente uma festa-filmagem, que reuniu a antiga equipe do jornal para dar depoimentos sobre a experiência. Estou para eles como um jovem guerreiro que se senta ao redor da fogueira para ouvir as histórias de guerra dos mais velhos. A redação do Sol inclui ex-professores, pais de amigos e uma penca de gente que admiro. Falo de pessoas como Ana Arruda Callado, Carlos Heitor Cony, Fernando Gabeira, Márcio Moreira Alves, Zuenir Ventura, além de Chico, Caetano e Gil. Meus caciques e pajés: somos todos da mesma tribo.
O Sol" foi um pioneiro da imprensa alternativa que floresceu nos anos 70, no período mais difícil da ditadura militar. Acho que ouvi falar do jornal pela primeira vez na música "Alegria, Alegria" de Caetano, uma espécie de hino que comenta "O Sol nas bancas de revista / me enche de alegria e preguiça / Quem lê tanta notícia?". Essa canção (que escuto no CD player enquanto escrevo este texto) - e outras do mesmo quilate, como "Domingo no Parque", são a trilha sonora do filme, às vezes em tocantes arranjos instrumentais. Depois soube de muitos casos curiosos das pessoas que participaram do jornal. "
Talvez metade do documentário seja dedicada ao Sol propriamente dito. O restante são comentários sobre os anos 60/70. Essa é a parte menos interessante, a maioria do que é dito nela já foi comentado antes em dezenas de outros lugares. Exceção: a belíssima entrevista com Gilberto Braga, que conta como tirou a inspiração para "Anos Rebeldes" de sua relação de amizade com os repórteres do Sol e compara os protagonistas aos amigos da redação. No fim, ainda vão descobrir que aquela série de TV é mesmo o que foi produzido de melhor sobre a geração de 1968.
Braga não se interessava por política nos anos 60 e talvez por isso pode perceber algo que muitos dos meus colegas de tribo têm dificuldade em compreender: o quanto nosso mundinho é pequeno e nossos horizontes, restritos. Com todos os ideais e ativismo político, nosso comportamento e padrão de consumo é igualzinho ao da elite que dizemos desprezar. Minha turma cabe em alguns quarteirões da zona sul do Rio de Janeiro. E o misterioso povo brasileiro está por aí, em busca de um lugar ao sol.
3 Comentarios:
Caciques, pajés.. V. ficou esquisito pacas com esa tanga e esse cocar, Maurício. Ainda bem que estamos em Santa Teresa.
Bwana Sergio,
só me olham torto em Santa quando visto paletó e gravata. Até porque minha tanguinha é super fashion, ok?
Meu caro Igor,
tem alguém no Rio que não tenha sido seu professor? Aliás, você já começou as aulas com o embaixador Azambuja?
Abraços
com todo respeito ao O Sol,pioneiro, mesmo, foi o Barão de Itararé com suas colunas e seu jornal A Manha...
Postar um comentário
<< Home