Sem Medo da OEA
Da sopa de letras da política internacional, a OEA – Organização dos Estados Americanos – é uma das menos estudadas por acadêmicos brasileiros. Daí a importância do livro “Sem Medo da Diplomacia”, depoimento do embaixador Baena Soares ao CPDOC da Fundação Getúlio Vargas. O diplomata foi secretário-geral da OEA entre 1984 e 1994, período conturbado que envolveu as guerras civis na América Central, a invasão do Panamá pelos EUA, o golpe de Fujimori no Peru e o de René Cedars no Haiti.
O livro é uma longa entrevista das pesquisadoras do CPDOC – incluindo uma ex-aluna minha – com Baena Soares, parte de uma série dedicada às autoridades diplomáticas brasileiras. O embaixador, já aposentado, vive no Rio de Janeiro e é presença constante nos debates acadêmicos sobre relações internacionais, em que sempre tem uma observação interessante a acrescentar.
A OEA com freqüência é desprezada como sendo pouco mais do que um fantoche dos EUA, ou então condenada à irrelevância quanto ousa atuar contra Washington. Não é bem assim. Baena Soares teve posições firmes contra os Estados Unidos e conseguiu tornar a Organização ator importante nos processos de paz centro-americanos, particularmente na Nicarágua e na Guatemala. E isso em meio ao governo Reagan, quando os americanos buscavam soluções militares para os conflitos na região, apoiando os Contras nicaragüenses ou ditaduras em El Salvador, Honduras e Guatemala.
Aos meus alunos no Clio: vale dar uma lida bem atenta nas análises do embaixador sobre a ação do Grupo de Contadora e do Grupo de Apoio, e das desastrosas decisões que a Argentina tomou na América Central, que acabaram repercutindo na crença de que os EUA apoiariam as posições de Buenos Aires na guerra das Malvinas.
No meu trabalho com cooperação internacional, me encontro com alguma freqüência com pessoas que viveram essa época, principalmente guatemaltecos e salvadorenhos e sempre gosto de ouvir suas histórias. Por vezes trágicas, mas que constituem um exemplo impressionante de negociação política e reconciliação, com inimigos sentando à mesa e buscando saídas comuns. Nós, brasileiros, deveríamos conhecer melhor essas experiências.
Baena Soares também fala bastante sobre o papel da OEA em consolidar a democracia na América Latina, mas neste ponto a organização cometeu muitos erros, em especial com Fujimori, que estabeleceu um precedente perigoso, que quase foi seguido na Guatemala e de certo modo influencia o que ocorre hoje na Venezuela e até na Bolívia: um presidente forte que se vale de sua popularidade para minar as instituições de “controle e equilíbrio” do Legislativo e do Judiciário.
O embaixador também examina de maneira muito interessante os processos diplomáticos em organizações multilaterais, tanto na ONU quanto na OEA e comenta episódios da política externa brasileira dos anos 50 em diante. Sua análise privilegia o longo prazo, mesmo sem ganhos imediatos: “É preciso não ter medo de usar a diplomacia. Diplomacia não é jogo de futebol... é, em primeiro lugar, a arte de identificar matizes e jogar com elas.” Pode-se aplicar a mesma definição à política.
8 Comentarios:
O Baena Soares é um dos grandes monstros de nossa diplomacia, no bom sentido, mestre Santoro. Não se deve mesmo menosprezar o papel da OEA, que, aliás, elegeu há pouco um secretário-geral apoiado pelo Brasil e Chile, contra o candidato dos EUA.
Vale lembrar também a atuação da OEA durante a tentativa de golpe cointra o Chávez, que acabou gerando o Grupo de Amigos, patrocinado pelo Brasil, que evitou uma crise medonha por lá. E garantiu a cadeira do Chávez, by the way. História para outro livro.
Grande Igor,
faz bem em priorizar o Baena. Imagino que ele vai falar das tarefas que vem assumindo na ONU, que também são interessantes.
Infelizmente, vamos ter que adiar nosso almoço de sexta, porque terei a despedida de uma amiga francesa que deixa o Brasil. Te mando um email para marcarmos outra data.
Mestre Sergio,
Gosto muito do embaixador Baena, em especial por ele ser um sujeito que realmente se interessa pela América Latina, o que não é o caso de muitos diplomatas que encontro em seminários e debates.
Também achei boa a eleição do Insulza, o ex-chanceler chileno, para secretário-geral da OEA e estou curioso para ver como será seu desempenho no cargo.
Abraços
Meu velho, não sei se você já está sabendo, mas o Theo chegou!!!
Já estou sabendo, meu caro. A semana está maluca, mas quero ver esse rapaz no sábado ou no domingo!
Abração
Prezado professor,
Trabalho com o Embaixador e gostei muito da sua postagem no BLOG. Tomei a liberdade de copiar seu post em nosso site,com o link para seu BLOG, obviamente.
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Grata
Professora Erika Ribeiro
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