sábado, setembro 02, 2006

Conversas com Cortázar



Cortázar acreditava em vampiros, achava que às vezes se duplicava e morria de medo de insetos em sua comida. Embora sejam características que eu não gostaria de ter, digamos, em meu dentista, não vejo problema em que façam parte da personalidade de um dos meus escritores favoritos. E ele tem muito a oferecer, como prova uma leitura do delicioso “Conversas com Cortázar”, do jornalista uruguaio Ernesto González Bermejo.

González reuniu em pouco mais de 100 páginas uma série de papos informais que teve com o escritor, de quem era amigo e que define como “um homem alto e tímido, de uma fraternidade contida” que tentava em seus livros “esticar a pele do cotidiano” e encarava a literatura como “exercício lúdico, antena da felicidade. Humanizadora.”

Cortázar fala bastante sobre suas obras mais famosas, principalmente os romances “O Jogo da Amarelinha” e o “O Livro de Manuel” e os contos que talvez sejam sua maior realização, em especial “O Perseguidor”, das páginas mais bonitas que li nesta vida. O escritor conta que sua paixão começou nos versos e daí passou às narrativas curtas, que podem ser inspiradas por uma palavra, uma imagem, uma cena do cotidiano: “Quando vou escrever um conto, sinto hoje, como há quarenta anos, o mesmo tremor de alegria, como uma espécie de amor.”

“O Jogo da Amarelinha” é bastante conhecido pela beleza da história de amor dos protagonistas, mas também pela criatividade formal - seus capítulos podem vir em diversas ordens, inclusive as inventadas pelo leitor. Cortázar afirma: “O romance não tem leis, a não ser a de impedir que a lei da gravidade entre em ação e o livro caia das mãos do leitor.”

As conversas também tem vários momentos interessantes sobre o fantástico entrando no cotidiano, marca registrada do autor, sobre tempo, política, música, identidade cultural argentina e a força da literatura da América Latina. Na casa de Cortázar há muitas moradas. Minha lista pessoal de favoritos é a seguinte:

1- O Perseguidor: declínio e queda de um grande músico de jazz, inspirado em Charile Parker.
2- A Auto-Estrada do Sul: um mega engarrafamento servindo para ilustrar o modo como todas as coisas importantes da vida são transitórias
3- Senhorita Cora: um adolescente internado num hospital se apaixona pela enfermeira, em meia dúzia de personagens está todo amor que houver nesta vida (e algum trocado só para dar garantia).
4- Casa Tomada: continua sendo um dos melhores testemunhos da rejeição da classe média argentina ao peronismo.

Alexandra: nem vem. Velho cego, que não saía da biblioteca, e tem nome de azeite, não dá nem para a comparação!

Fernanda, seguem os links para os textos que escrevi sobre “Todos os Fogos o Fogo” e “Os Prêmios”. Tem que descer um pouco a página até achar os posts, ok?

5 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Senhor Santoro, Muita grata pelo descanso que me ofereceu nesse sábado chuvoso e sem graça feito de trabalho. Um beijo, Fernanda. PS: Posso mostrar seu blog para terceiros?

setembro 02, 2006 1:23 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

ahaha! Tadinho do meu ceguinho, velho e feio! Ô, Maurício, será que não exagerou um pouquinho, não? "nome de azeite"?!! Mas te concedo esta: O Perseguidor faz parte daquelas histórias que, sim, amo, desses livros que me acompanham pelo tempo e já viajaram meio mundo comigo (junto com o Aleph, o Túnel e ...o Livro dos Abraços e o Velho e o Mar - tá, tá, sei, mas é que...:I´m a girl after all!) beijinhos, a.

setembro 02, 2006 1:31 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

PS: o "Conversas..." já está nas livrarias ou terei que pedir emprestado à um certo prof que sequer tive o prazer de conhecer "live" ainda?

setembro 02, 2006 1:35 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

cronópio, cronópio.

fama, fama.

abçs ! :)

setembro 02, 2006 10:51 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Nandinha,

eu é que agradeço pelo papo de sexta. Quanto a mostrar o blog para terceiros (ou quartos e quintos) ele está na Grande Rede é para isso mesmo.

Alexandra,

OK, há um certo exagero. O Velho Cego mandou muito bem em "O Sul" e "O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam".

Mas que ele é o vilão d´O Nome da Rosa, isso é.

O livro sobre o Cortázar está à venda nas melhores casas do Ramo. Tente as lojas da Livraria da Travessa, que está com um intercâmbio bem legal com a Argentina.

Hermenauta,

Sem dúvida!!!!

Abraços

setembro 03, 2006 4:49 PM  

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