Polarização
Há uma discussão entre analistas da política brasileira sobre se o país está polarizado em termos de classes sociais no apoio a Lula e Alckmin. Tenho vivido essa polarização. No trabalho e no doutorado o clima é decididamente pró-Lula, indo da adesão entusiasmada ao governo até à resignação de que o PT corrompido é melhor do que o retorno dos tucanos, particularmente em sua vertente mais conservadora, com Opus Dei e tudo. Mas entre meus alunos Alckmin leva a maioria, às vezes com expressões de ódio visceral a Lula. No entanto, há ressalvas quanto à polarização.
Vamos aos dados: a divisão geográfica já é bem conhecida. Norte/Nordeste com Lula, Centro-Sul com Alckmin. Exceções, e importantes: Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo com o presidente. No Norte, o candidato tucano levou Roraima (onde a posição do governo federal em defesa das terras indígenas da Raposa Serra do Sul tirou votos de Lula) e Rondônia (cujo perfil econômico está em transformação, tornando-a mais próxima dos estados do agronegócio).
Contudo, quando dizemos “o Rio de Janeiro votou com Lula” podemos cometer um erro de avaliação. Vamos olhar esse voto mais de perto. O Globo desta segunda publicou um mapa eleitoral da eleição presidencial na cidade do Rio. Alckmin ganhou em todos os bairros da zona sul e na Barra da Tijuca, onde se concentram os eleitores de classe média e alta. Lula levou a zona oeste e boa parte da norte. É possível que algo semelhante tenha ocorrido, por exemplo, em Curitiba ou Porto Alegre, com o presidente vencendo em bairros pobres, mesmo quando seu adversário ganhou na cidade ou no estado.
A Folha de S. Paulo publicou alguns dados na edição desta segunda que também ajudam na análise. Alckmin teve nada menos do que 56% dos votos dos eleitores com estudo universitário. Falamos de uma minoria que corresponde a uns 10% da população, mas é um grupo com enorme importância política, de formação da opinião pública, influência nos meios de comunicação. Em contrapartida, Lula ficou com 57% dos eleitores com nível de instrução fundamental. A imagem invertida de seu oponente.
Polarização à parte, será que uma vitória de Alckmin mudaria tanto assim o rumo das políticas públicas? Claro que haveria diferenças, mas acredito que menores do que a retórica inflamada de campanha dá a entender. A corrupção, por exemplo, continuaria igual. Tanto PT quando PSDB são minoritários no Congresso e teriam que buscam apoio numa série de partidos cujo principal pilar ideológico é o Diário Oficial. Enfim, vale ler a ponderada análise do argentino Rosendo Fraga, que desenvolve o tema na base de que na Argentina as mudanças são sempre mais bruscas, enquanto no Brasil prevalece a tradição da moderação, de busca de consensos e de negociações e acordos pelas elites políticas. Está certíssimo.
1 Comentarios:
É, meu caro. Plus ça change, plus c´est la même chose...
Marcamos então para terça-feira!
Abraços
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