Esboços
O cenário: Rio de Janeiro, Belle Époque. Os personagens: os mais importantes intelectuais do país – Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Oliveira Lima, Rui Barbosa – reunidos na corte do barão do Rio Branco. O drama: a tentativa de construir um país moderno em meio às limitações da Velha República.
Qual voz narrativa usar? A solução óbvia seria contar a história pela boca de um jovem que se juntasse ao grupo numa posição de assistente, aprendiz. Testemunha, mas não protagonista, dos atos dos grandes homens. Mas por que não tentar uma perspectiva mais marginal – uma mulher, ou um mulato, que por definição estariam excluídos dos mais altos círculos do poder e ofereceriam visão mais crítica daqueles tempos?Eventualmente, incluir um jovem militar, envolvido com o nacionalismo autoritário (mas preocupado com o desenvolvimento econômico) que começava a surgir, em oposição ao liberalismo tradicional.
Atos: a volta de Rio Branco ao Brasil, sua aclamação como herói nacional e a nomeação para Ministro das Relações Exteriores. A ida de Nabuco para os Estados Unidos, como primeiro embaixador brasileiro naquele país. O conflito com a Bolívia pelo Acre. As disputas com a Argentina e a retórica geopolítica do ministro Zeballos, reflexo dos medos da Grande Guerra que começa a se esboçar no horizonte. A pompa e a circunstância da Conferência Pan-Americana no Rio de Janeiro e das negociações de paz na Haia.
Contrapontos: Machado de Assis atuando como comentarista, com observações irônicas em cartas a seu velho amigo Joaquim Nabuco. Lima Barreto, amargurado e semi-alcoolizado, e João do Rio, com sua boemia e gosto pelo submundo, falariam do lado obscuro da República que estava sendo criada. Os deserdados do Bota-Abaixo e do "Rio Civiliza-se". Problema: como lidar com a Revolta da Vacina?
Alívios cômicos: a hilariante disputa entre Rio Branco e Oliveira Lima, o Dom Quixote Gordo, pela entrada na Academia Brasileira de Letras. O périplo de Lima para não servir no Peru. As crises de vaidade e retórica de Rui Barbosa. A rabugice do lendário diretor geral do Itamaraty, o Visconde de Cabo Frio, que ocupava o cargo desde os tempos do Imperador.
Temas políticos: até onde é possível reformar pelo alto as instituições carcomidas da Velha República? Os projetos pioneiros de Oliveira Lima para modernizar a diplomacia econômica do Brasil, 40 anos à frente do seu tempo! A rixa ideológica entre Dom Quixote Gordo e Rio Branco: melhor priorizar a América do Sul ou os EUA? Euclides da Cunha e a descoberta do Brasil interiorano. Seus complexos de pequeno-burguês diante do grão-senhor Rio Branco.
Grand finale: os simbolismos das mortes de Nabuco, Machado e Euclides – um mundo que se vai... A revolta da Chibata e a “política das salvações” do marechal Hermes da Fonseca, com o bombardeio a Salvador. A morte do barão alguns dias depois. A idéia de uma Belle Époque nos trópicos sepultada pela realidade crua das disputas políticas de então. Epílogo: alguns anos depois, o Dom Quixote Gordo passeia na Avenida Rio Branco com seu jovem discípulo, Gilberto Freyre, que faz uma apaixonada defesa da mestiçagem a aponta os novos rumos que o Brasil tomaria com a eclosão do Modernismo.
Esboços para um romance histórico que eu talvez escreva um dia. Pensados num vôo noturno Brasília-Rio de Janeiro, após uma palestra sobre conflitos na América do Sul, com um calhamaço sobre o barão do Rio Branco no colo e sob os efeitos psicodélicos do biscoito de goiaba da Gol.
Qual voz narrativa usar? A solução óbvia seria contar a história pela boca de um jovem que se juntasse ao grupo numa posição de assistente, aprendiz. Testemunha, mas não protagonista, dos atos dos grandes homens. Mas por que não tentar uma perspectiva mais marginal – uma mulher, ou um mulato, que por definição estariam excluídos dos mais altos círculos do poder e ofereceriam visão mais crítica daqueles tempos?Eventualmente, incluir um jovem militar, envolvido com o nacionalismo autoritário (mas preocupado com o desenvolvimento econômico) que começava a surgir, em oposição ao liberalismo tradicional.
Atos: a volta de Rio Branco ao Brasil, sua aclamação como herói nacional e a nomeação para Ministro das Relações Exteriores. A ida de Nabuco para os Estados Unidos, como primeiro embaixador brasileiro naquele país. O conflito com a Bolívia pelo Acre. As disputas com a Argentina e a retórica geopolítica do ministro Zeballos, reflexo dos medos da Grande Guerra que começa a se esboçar no horizonte. A pompa e a circunstância da Conferência Pan-Americana no Rio de Janeiro e das negociações de paz na Haia.
Contrapontos: Machado de Assis atuando como comentarista, com observações irônicas em cartas a seu velho amigo Joaquim Nabuco. Lima Barreto, amargurado e semi-alcoolizado, e João do Rio, com sua boemia e gosto pelo submundo, falariam do lado obscuro da República que estava sendo criada. Os deserdados do Bota-Abaixo e do "Rio Civiliza-se". Problema: como lidar com a Revolta da Vacina?
Alívios cômicos: a hilariante disputa entre Rio Branco e Oliveira Lima, o Dom Quixote Gordo, pela entrada na Academia Brasileira de Letras. O périplo de Lima para não servir no Peru. As crises de vaidade e retórica de Rui Barbosa. A rabugice do lendário diretor geral do Itamaraty, o Visconde de Cabo Frio, que ocupava o cargo desde os tempos do Imperador.
Temas políticos: até onde é possível reformar pelo alto as instituições carcomidas da Velha República? Os projetos pioneiros de Oliveira Lima para modernizar a diplomacia econômica do Brasil, 40 anos à frente do seu tempo! A rixa ideológica entre Dom Quixote Gordo e Rio Branco: melhor priorizar a América do Sul ou os EUA? Euclides da Cunha e a descoberta do Brasil interiorano. Seus complexos de pequeno-burguês diante do grão-senhor Rio Branco.
Grand finale: os simbolismos das mortes de Nabuco, Machado e Euclides – um mundo que se vai... A revolta da Chibata e a “política das salvações” do marechal Hermes da Fonseca, com o bombardeio a Salvador. A morte do barão alguns dias depois. A idéia de uma Belle Époque nos trópicos sepultada pela realidade crua das disputas políticas de então. Epílogo: alguns anos depois, o Dom Quixote Gordo passeia na Avenida Rio Branco com seu jovem discípulo, Gilberto Freyre, que faz uma apaixonada defesa da mestiçagem a aponta os novos rumos que o Brasil tomaria com a eclosão do Modernismo.
Esboços para um romance histórico que eu talvez escreva um dia. Pensados num vôo noturno Brasília-Rio de Janeiro, após uma palestra sobre conflitos na América do Sul, com um calhamaço sobre o barão do Rio Branco no colo e sob os efeitos psicodélicos do biscoito de goiaba da Gol.
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