Colapso
Fiquei fã do biólogo Jared Diamond ao ler seu ótimo “Armas, Germes e Aço”, que mistura história, medicina e geografia para explicar o papel das doenças e epidemias na consolidação do poder da Europa sobre as Américas e a África. Agora mergulhei em sua obra mais recente, “Colapso”, que usa o mesmo método para analisar a influência da degradação ambiental na destruição de civilizações antigas como a Ilha de Páscoa, os maias e a Groenlândia viking, e abordar problemas ecológicos das sociedades contemporâneas, dos EUA à China, passando por Ruanda, Haiti e Austrália.
Numa prosa envolvente, capaz de sintetizar centenas de anos de história em poucos parágrafos, Diamond identifica o padrão das catástrofes ambientais do passado: crescimento populacional, abuso dos recursos ambientais (terras, água, florestas, caça) levando a desmatamento, mudanças no clima, fome, instabilidade política e guerras.
Tal trajetória trágica não é inevitável, e Diamond mostra como sociedades que vivem em ambientes difíceis, como a Islândia e o Japão, conseguiram aprender com a experiência e desenvolveram métodos de preservação ecológicas compatíveis com alto índice de desenvolvimento. Adaptação é o conceito-chave, mas o processo é difícil porque pode significar abrir mão de valores há muito estabelecidos, como hábitos alimentares, padrões de qualidade de vida, tabus religiosos etc.
Embora os relatos históricos do livro sejam muito interessantes, o mais importante são as lições para o presente. Gostei especialmente da análise como a degradação ambiental e superpopulação de Ruanda levaram a tensões sociais gigantescas, que muito contribuíram para o genocídio de 1994. Estudo que coincide com a abordagem atual da ONU sobre os vários aspectos necessários para a segurança internacional. Vou debater o caso de Ruanda com meus alunos na universidade, num curso sobre paz que darei em maio.
Diamond escorrega em alguns momentos. Seu exame do contraste entre o Haiti e a República Dominicana, que dividem a mesma ilha, ignora terrivelmente o peso da monocultura escravista do açúcar que dominou a sociedade haitiana. Sabemos pela experiência brasileira o impacto catastrófico que esse modelo econômico traz para a ecologia: em nosso país, foi o responsável pela devastação da Mata Atlântica.
O Brasil é citado no livro apenas de passagem como um dos maiores desmatadores mundiais, mas vários dos elementos levantados por Diamond se aplicam a nosso país, onde os governantes em geral tem uma perspectiva de curto prazo, de busca de ganhos imediatos às custas de tragédias para as gerações futuras. A concentração de renda e poder também beneficia atores como as grandes empresas, que impõem seus interesses ao resto da sociedade. O tipo de megaprojeto que o governo Lula vem privilegiando na Amazônia e no Centro-Oeste é um exemplo da repetição dessa lógica não-sustentável, tantas vezes utilizada no passado.
2 Comentarios:
Olá!
Achei muito interessante o trabalho do biólogo, mas.... que curso é esse que você vai dar? É extra-curricular? Passe informações pra nossa lista!
Outra coisa, fiquei pensando no seminário de hoje e na questão da Venezuela. Será que o Chavéz deixaria de exportar petróleo para os EUA caso a China apresentasse uma boa proposta? Que tipo de conseqüências isso poderia ter?
Mariana Antoun
Oi, Mari.
É o módulo que vou dar para vocês em maio, o nome oficial é teorias da paz e da guerra e minha idéia é concentrar nas abordagens da ONU sobre segurança humana, em seus vários campos: economia, meio ambiente, democracia e direitos humanos etc.
Quanto ao Chávez, apesar da retórica, os EUA continuam a ser o maior parceiro econômico da Venezuela, e um dos maiores fornecedores de petróleo, junto ao Canadá e ao México.
Se Chávez fizesse uma mudança desse tipo, 100% de chance que enfrentaria um golpe ou mesmo uma intervenção militar.
Mas há preocupação grande em Washington pelos movimentos da China na América Latina. Sabe a Doutrina Monroe da não-interferência de uma potência estrangeira nas Américas? Pois é, ela está indo pro espaço...
Beijos
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