França: revolta ou estagnação?
Me sinto dividido com relação aos protestos que mobilizam a França nas últimas semanas. Por um lado, me solidarizo com os jovens e operários que saem às ruas para se opor às mudanças nas leis trabalhistas, que tornariam mais fácil para as empresas demitir funcionários com até 25 anos. Por outro, também vejo os movimentos sociais franceses num quadro de estagnação e falta de propostas para lidar com as dificuldades do país.
A França, como a maioria dos países da Europa Ocidental, defronta-se com uma década de baixo crescimento e alta taxa de desemprego. Nos jovens da periferia, ela alcança 50%, com todas as conotações raciais que levaram à insurreição das banlieus em 2005. Os liberais afirmam que os custos trabalhistas são muito elevados e que é preciso abrir mão de alguns dos direitos sociais do Welfare State, para que as empresas possam competir nestes dias de economia global e rivais que usam mão-de-obra bem mais barata na China ou na Índia. Mas a maioria da população – e conseqüentemente, os partidos de esquerda e de direita que a representam – temem mudanças no modelo e afirmam que o argumento não passa de pretexto para que os empresários aumentem os lucros.
O impasse esteve no centro das eleições da Alemanha e na rejeição francesa e holandesa ao Tratado Constitucional Europeu, visto com ou sem razão como um instrumento das grandes empresas frente ao trabalhadores. O problema é que os movimentos sociais têm se limitado a bradar “não” mas ainda não foram capazes de propor alternativas eficazes. A semana de 35 horas de trabalho adotada na França não parece ter tido grande impacto.
Há quem veja nos atuais protestos franceses um marco para a esquerda, uma retomada da aliança entre estudantes e operários que marcou 1968. Não compartilho desse entusiasmo. Naquele ano havia um desejo – utópico que fosse – por grandes mudanças e transformações. As manifestações de hoje são baseadas no medo. Na manutenção de um status quo bastante medíocre.
É fácil esses sentimentos degringolarem em demagogia anti-imigrante, por exemplo. Afinal, de classes médias autoritárias e assustadas, nós brasileiros entendemos um pouco.
4 Comentarios:
Discordo, tecninicamente, com o motivo da reivindicação. Mas concordo, plenamente, com o espírito francês de mobilização. No Brasil, ante tantos absurdos, a única mobilização que tivemos aconteceu nos shows do U2 e dos Rolling Stones.
Caros,
de fato, as instituições da UE estão muito distantes das preocupações cotidianas das pessoas. O tipo de acordo macro acertado em Bruxelas tem enorme impacto, claro, mas pouca sensibilidade ao que acontece com os cidadãos comuns.
Parece que hoje rola a greve geral na França. Vamos aguardar e ver o que acontece.
Abraços
Meu único medo é que essas medidas sejam trazidas ao nosso país, onde qualquer mudança não segue o passo a passo de mostrar aos cidadãos o que vai acontecer. Recebi um email catastrófico falando do fim do 13° e licença maternidade! Será a chegada do apocalipse ? Aos pocuos nossas garantias tabalhistas vão se perdendo com o fim da força dos sindicatos, empresas quebrando acordos entre as partes, remuneração baixa maquiada por bonificações em cima de metas que acabam tornando o salario aparentemente bom...
As manifestações na França me fazem parar para pensar: por que no Brasil não temos esse tipo de mobilização? Será que é devido ao nosso enraizado lema "tá ruim mas tá bom", glorificado por nosso expoente Caetano Veloso na época do exílio: "NY é bom mas é uma m*, Brasil é uma m* mas é bom." ?
Olá pessoa, eu aqui novamente, achei interessante esse artigo:
http://www.cecac.org.br/MATERIAS/CPE_marco_frances_2006.htm
Para alguns, até Sábado :-)
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