Capote
A revolução, quem diria, começou no Kansas. O escritor Truman Capote chegou ao estado para escrever uma reportagem sobre uma família brutalmente assassinada. Terminou amigo de um dos assassinos e escreveu "A Sangue Frio", um livro em que usa técnicas de ficção para fazer jornalismo da melhor qualidade sobre a anatomia daquele crime. Outras feras como Tom Wolfe e Hunter Thompson desenvolveram mecanismos semelhantes. Nascia o Novo Jornalismo.
O filme "Capote" tem um excelente roteiro e uma atuação impecável de Philip Seymour Hoffman no papel título. Não é uma cinebiografia, como parece à primeira vista. A histórica se concentra no período em que Capote escreve "A Sangue Frio". O foco principal é sua relação com Perry Smith, um rapaz sensível e doce que também podia ser terrivelmente cruel, como quando assassinou a família Clutter. O escritor e o criminoso compartilhavam uma infância infeliz, família desestruturadas e suicídios de parentes próximos: "Parece que Perry e eu crescemos na mesma casa, mas eu saí pela porta da frente, e ele pela dos fundos", diz Capote.
Li "A Sangue Frio" quando era estudande de jornalismo e o livro me impressionou sobretudo como um estupendo trabalho de reportagem, com grande atenção aos detalhes, ao cotidiano da família e à trajetória dos criminosos. Além disso, creio que fez sucesso porque tocou no tema da "juventude transviada" e da marginalização social que ganhava destaque naquele momento de fins dos anos 50, início dos anos 60.
O filme conta essa história retratando Capote como um homem tão frio quando os dois criminosos, capaz de mentir, subornar e manipular todos a sua volta para escrever seu grande livro. Paga um preço pelo sentimento de culpa e a tendência à autodestruição que o acompanhará por toda a vida, após a publicação da obra.
Capote foi amigo de infância da escritora Harper Lee, autora do libelo anti-racista "O Sol é para Todos". Ela é uma personagem coadjuvante no filme, uma espécie de consciência de Capote. Gostaria que tivesse aparecido mais. Em todo caso, saí da sessão deslumbrado com o talento de Hoffman e querendo saber mais sobre o personagem que ele tão bem interpretou.
3 Comentarios:
Não vi Capote porque o bendito não está passando por essas bandas ainda, mas estou supercuriosa. O único problema é a voz irritante que o PSH magistralmente assumiu pra interpretar o personagem - irrrrrk!
Capote e Hunter, como vc mencionou, foram o marco zero de um novo estilo de literatura americana que fascina o mundo todo até hoje. É uma figura da história dos EUA da qual vale a pena voltar os olhos.
Nica, querida.
Acredite, você vai ficar tão envolvida pela atuação do PSH que não vai nem reparar na voz dele. O cara é sensacional. Acho que Capote o transformou num astro de primeira grandeza.
Ock, eu gosto muitíssimo do Novo Jornalismo americano, e também de alguns repórteres-escritores que trabalham numa linha parecida como o John Mitchell (New Yorker) e o Gay Talese (New York Times).
A Companhia das Letras tem uma coleção maravilhosa chamada "Jornalismo Literário" em que publica esses feras, junto com alguns semelhantes brasileiros, como o Joel Silveira.
abraços
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