quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Crime Delicado


Beto Brant, diretor de “Os Matadores”, “Ação entre Amigos” e “O Invasor” é um dos raros cineastas de quem vi todos os filmes. OK, “Crime Delicado” é apenas o quarto da lista. A fidelidade se justifica por sua obra original e criativa. Sempre há em seus longas algo interessante que merece ser conferido. Este é seu trabalho mais ousado. Não é para todos os gostos. Faço minhas as palavras da jornalista Ana Paula Sousa: “Não é um filme fácil. Quem embarca na história sai da sala com um nó na cabeça. Isso, antes que alguém pergunte, é, sim, um elogio.”

Vamos ao enredo: Antônio (Marco Ricca) é um crítico de teatro mordaz, à la Barbara Heliodora. Ele se apaixona por Inês, uma mulher que só tem uma perna (Lilian Taublib, deficiente física na vida real) e que mantém uma estranha relação com José, um pintor mexicano para quem posa. Numa noite, Antônio visita Inês bêbado, os dois discutem e brigam e terminam na cama. No dia seguinte, ela o acusa de estupro. A situação é ambígua o suficiente para que cada espectador pense o que quiser.

O filme inclui trechos de peças sobre a paixão e o ciúme, a respeito das quais Antônio depois escreve suas críticas teatrais. Ele se queixa do caos e da falta de sentido das montagens e parece querer que todas as histórias de amor sejam organizadas e claras. No fundo, admite ser um homem que vive em terceira pessoa, como um espectador de si mesmo.

Inês subverte essa relação e o defronta com outro modelo de arte na sua intensa relação com José, que pinta quadros onde sexo e deficiência física caminham lado a lado. Antônio diz que é pornografia e que o artista é um fetichista que a manipula. Somente no fim do filme conheceremos melhor José, que dá um belo depoimento sobre o que pensa a respeito da vida, da morte e da troca de experiências entre pintor e modelo. José é interpretado por Felipe Ehrenberg, artista plástico e adido cultural do México em São Paulo.

Vi “Crime Delicado” numa pequena sala no Centro Cultural Laura Alvim. Saí da sessão sem saber ao certo se entendi ou gostei do filme, mas caminhando por Ipanema no início da noite, foi ficando mais forte um sentimento de bem-estar e de inquietação, com cenas pipocando na cabeça. Não é qualquer filme que me faz sentir isso. Beto Brant, aguardo seu quinto longa-metragem.

2 Comentarios:

Blogger Bruno Lopes said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Assisti "Os Matadores" no salão Pedro Calmon, na UFRJ, em uma sessão especial que teve um debate do Beto Brant com os estudantes. A conversa após o filme não foi muito empolgante, mas achei "Os Matadores" excelente. Pretendo chegar à sua marca depois de assistir "Crime Delicado".

E outra coisa, Maurício: meu novo blog está de pé! Não lista ele só porque destoa demais dos outros? :-)

fevereiro 24, 2006 10:36 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Grande,

o meu favorito do Brant é "O Invasor", mas gostei de todos os filmes dele.

Quanto ao seu blog, é uma ótima notícia, mas que tal você me dar o endereço? O seu próprio perfil no blogger está bloqueado!

Abraços

fevereiro 26, 2006 12:49 PM  

Postar um comentário

<< Home

Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons License. Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com