O Brasil vai à China
Assisti a uma palestra do diplomata Luiz Augusto de Castro Neves, embaixador do Brasil na China. Foi uma excelente exposição sobre as transformações na economia daquele grande país. O debate foi no Centro Brasileiro de Relações Internacionais e a platéia era formada principalmente por diplomatas e empresários, de modo que boa parte das discussões girou em torno de oportunidades de negócios e disputas comerciais.
A China já é uma das principais parceiras econômicas do Brasil, creio que só está atrás dos EUA e da Argentina como destino de exportações. O que eu não sabia é que o Brasil também se tornou um dos dez maiores importadores de produtos chineses. O padrão do comércio é desigual: os brasileiros vendem sobretudo soja e minério de ferro, e importam produtos manufaturados: têxteis, brinquedos, eletrônicos etc. Há interesse da China em investir em infraestrutura por aqui, em rodovias e portos.
Eu desconhecia a quantidade de empresas brasileiras que estão construindo fábricas na China, atraídas pelo baixo custo da mão-de-obra, pela pequena carga tributária (50% da existente no Brasil) e por uma série de incentivos, como facilidade de importar bens de capital. São indústrias de diversos ramos, como aviação (Embraer), ferramentas (Tramontina), ônibus (Marcopolo), eletromésticos (Arno). Ou seja, estão no mesmo processo de transnacionalização da produção que suas rivais na Europa, EUA e Japão.
O caso mais bizarro narrado pelo embaixador foi o de um empresário gaúcho, residente em Mônaco, que construiu uma fábrica de têxteis próxima à cidade de Cantão, levando mais de mil funcionários do Rio Grande do Sul para lá. Resultado: proliferação de churrascarias e até a instalação de um Centro de Tradições Gaúchas. O diplomata comentou que há muitas churrascarias em Pequim, com maître brasileiro e os garçons, chineses, de bombacha. Morram de inveja, McDonald´s e Outbacks da vida.
No debate, ficou clara a tensão existente entre os empresários. O ex-chanceler de FHC, Luiz Felipe Lampreia, que agora é consultor para a Firjan, comentou que recebe diariamente uma romaria de industriais de diversos ramos, queixosos da competição desleal dos produtos chineses. Com baixos salários e proibição de ação sindical, não é de estranhar que a China seja campeã de processos anti-dumping na Organização Mundial do Comércio. Recentemente o Brasil assinou um acordo comercial em que os
chineses concordam em impôr restrições às exportações para cá, em troca do governo brasileiro restringir a aplicação de salvaguardas e outras medidas de proteção comercial.
O embaixador pontuou a palestra com anedotas divertidas sobre o cotidiano na China. Uma delas foi sobre o "curto prazo" chinês. Visitando Hong Kong acompanhado de um diplomata chinês, ambos pararam na alfândega para a revista dos documentos. O funcionário comentou: "Não se preocupe, em breve tudo isso chegará ao fim e as pessoas circularão pelo mundo livres, sem controles.". O embaixador perguntou: "Em breve, quando?". E o chinês, impertubável: "Ah, em pouco tempo, uns 500 anos."
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