Aperte a Espada
Os camelôs de Caracas vendem um boneco do Chávez, parecido com o antigo Falcon. O brinquedo vem com uniforme militar de páraquedista e uma chamada na embalagem que diz "aperte minha espada".
É bem representativo do personalismo com que Chávez governa o país. Todas as camisas, faixas, panfletos e demais manifestaçöes polìticas locais trazem o nome e/ou a foto do presidente, que aliás é chamado principalmente de "comandante". Há poucas referências ao Movimento V República, o partido de Chávez. Ele me parece pouco mais do que uma plataforma eleitoral pela qual competem os defensores do presidente. O programa se baseia em lemas como "socialismo do século XXI", "revoluçäo democrática", "enfrentar o imperialismo" e "pátria grande", entendida como integraçäo latino-americana.
O boneco uniformizado também chama a atençäo para outro aspecto muito forte da política venezuelana, que é a militarizaçäo do governo Chávez. Claro, suas origens estäo no Exército de onde comandou o golpe fracassado em 1992, que no entanto o tornou símbolo do descontentamento com o sistema tradicional. Atualmente, as Forças Armadas säo uma das principais bases de apoios do governo. Vários generais da ativa servem como ministros ou presidentes e diretores de estatais.
Para agradar a essa clientela, Chávez está comprando muitas armas - fuzis russos, navios espanhóis, aviöes brasileiros. Também está criando uma milícia de cidadäos, creio que para ter respaldo popular na eventualidade de uma nova tentativa de golpe contra o governo, como a de 2002.
Penso que as conseqüências dessa militarizaçäo para a Venezuela seräo ruins. Duvido que os militares queiram voltar à rotina tediosa dos quartéis depois de provar o doce gosto do poder durante os anos de Chávez. Lidar com as Forças Armadas sedentas de prestígio, armas modernas ou salários altos poderá ser um problema para os próximos governos.
O Fórum Social Mundial começou ontem com uma bela marcha de abertura. Hoje iniciaram as atividades como debates e seminários. Passei metade do dia no estande do Brasil, atendendo aos visitantes. Agora tenho mais problemas de organizaçäo para solucionar, a burocracia por aqui causa várias dificuldades.
4 Comentarios:
Oi, Maurício:
Interessante a visão que tu nos passa de Chávez, inclusive no que se refere ao uso mercadológico de sua imagem, bem ao gosto do capitalismo.
Estou acompanhando o FSM através do site da Agência Carta Maior, por incrível que pareça, aqui no sul, nossos jornais estão dando pouquíssima atenção ao FSM, nem parece que era Poro Alegre que o sediava, ao ponto de, mesmo com a oferta de transmissão gratuita via telões pela TV do site acima referido, a prefeitura de POA não demonstrou interesse, uma lástima.
Bom trabalho por aí, guri, e, dando um tempinho nos mantenha atualizados com suas preciosas observações.
Abraço!
Mestre, assisti ao Shooting Dogs essa semana, e lembrei à beça de você. O filme impressiona mesmo, e também adorei a cena em que a repórter da BBC admite seu racismo. Ah, e aproveite o FSM! :)
será que o Chavez não é espada?
sorry! mas lembrei dessa bobagem preconceituosa... um boneco que manda apertar em sua espada????
bjão
lele
Car@s,
Regina: os jornais daqui também ignoram ou criticam o FSM, com os argumentos de que atrapalha o transito e de que o governo está usando dinheiro público para financiar ativistas de esquerda, em vez de investir nos problemas do país.
Em relaçäo a POA, as coisas em Caracas säo bem mais confusas, dá o dobro de trabalho organizar um evento.
Nica,
que bom que vocë gostou do filme! Foi um dos melhores que vi no festival do Rio.
Elenara,
O culto ao Chávez deve ser a segunda maior industria da Venezuela, depois do petroleo. Camisa, calendario, bonequinho, tem de tudo. Claro que fizemos um monte de piadas com a espada do comandante. Ah, esse povo do FSM!
BB,
seja bem-vindo de volta ao SEU blog! Depois conversamos com mais calma. Odeio admitir, mas o Huntington tem razao.
Acho que Chavez é um retrocesso para a esquerda, está trazendo de volta tendëncias autoritárias e personalistas dos anos 60.
Abracos
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