quinta-feira, janeiro 19, 2006

Fazendo as Malas: Venezuela


Embarco na manhã de domingo para a Venezuela. Passarei uma semana em Caracas, trabalhando em eventos do Fórum Social Mundial, que neste ano será policêntrico, ocorrendo também no Mali e no Paquistão. As atividades nas quais estou envolvido prometem ser muito interessantes, abarcando movimentos sociais e acadêmicos de vários países da América Latina e da Europa.

É claro que para um cientista político especializado em América Latina ver em primeira mão os conflitos sociais do governo Chávez vai ser uma ótima oportunidade para aprender. A Venezuela passa por crises violentas desde os anos 80, quando o modelo de desenvolvimento construído em cima dos choques do petróleo desmoronou. Houve uma rebelião popular em Caracas, em 1989, duramente reprimida pelas autoridades. Os partidos tradicionais perderam a legitimidade e a confiança da população e o então tenente-coronel Chávez tentou um golpe militar (1992). Foi derrotado, mas tornou-se um líder nacional e ganhou as eleições presidenciais de 1998.

Em seus dois mandatos como presidente ele se antagonizou com praticamente toda a elite e a classe média da Venezuela, numa série de disputas pelo controle das principais instituições do Estado - Congresso, Suprema Corte e a poderosa estatal petrolífera, a PDVSA. Conflitos que chegaram às ruas e à violência, incluindo um fracassado golpe contra Chávez em 2002.

O que o mantém no poder? O preço do petróleo quintuplicou desde sua posse. A maioria desses recursos foi para políticas sociais (saúde, educação, controle de preços) ou para o apoio à integração sul-americana (parcerias com Brasil, Argentina, Cuba, Bolívia). A Venezuela virou um país-chave na política do continente, com dinheiro para financiar grupos políticos aliados, em países como Nicarágua, Colômbia e Peru. Sediar o Fórum Social Mundial é mais uma cartada de Chávez para afirmar sua liderança.

Espero encontrar um país dividido, tenso. Mas a expectativa é alta com relação ao Fórum e à riqueza dos debates que encontrarei por lá.

Interlúdio literário: o escritor mexicano Carlos Fuentes faz "O Elogio do Romance", a partir de Dom Quixote e suas contribuições para o diálogo entre culturas. Beleza pura.

3 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Estou ansioso pelos seus relatos, Maurício. Não consigo confiar em qualquer dos relatos que leio sobre a Venezuela -- tanto contra quanto a favor de Chávez.

Estão faltando fontes isentas sobre a questão.

janeiro 19, 2006 6:02 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Marcus,

postei os primeiros relatos, fruto das impressóes iniciais da Venezuela. Já deu para perceber que a estada por aqui será bastante rica e tumultuada. Vamos ver no que dá!

Abraços

janeiro 23, 2006 2:21 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

19 de enero de 2006: expolio del Archivo de Salamanca. La calle Gibraltar pasa a llamarse calle del Expolio

janeiro 12, 2007 6:46 PM  

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