domingo, dezembro 25, 2005

Apenas um Beijo


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Dias natalinos de grande tranqüilidade, incomum neste ano tão agitado. Quase na surdina entrou em cartaz um drama de Ken Loach, diretor de grande talento, que sempre vale a pena acompanhar. Gosto especialmente de "Terra e Liberdade", um épico sobre a guerra civil espanhola que é um dos meus filmes favoritos - meu irmão e eu costumamos repetir os diálogos de cor, alguns deles servem até para explicar a crise no PT ("You have been betrayed by your own leaders!").

"Apenas um Beijo" segue sua tradição de misturar histórias românticas com tramas políticas e questões sociais, narrando o caso de amor entre uma mulher branca e um rapaz filho de imigrantes paquistaneses. Tudo se passa na Escócia, numa Glasgow cinzenta onde a única coisa luminosa é a paixão do casal de protagonistas.

Claro que os dois enfrentam todo tipo de preconceito e obstáculo. A família do rapaz não aceita o romance e quer que ele siga os planos de um casamento arranjado. A namorada trabalha numa escola católica e alguns de seus superiores não vêem com bons olhos seu envolvimento amoroso com um muçulmano.

O filme é de 2004 e se eu o tivesse visto há um ano, talvez não tivesse gostado tanto. Alguns personagens são esteriotipados e o roteiro força a mão em vários pontos, caindo no melodrama barato. O que tornou "Apenas um Beijo" muito interessante foi a explosão da revolta dos banlieus franceses e os tumultos raciais na Austrália. Este novo contexto dá outra força às situações retratadas no filme, como o diálogo em que o pai paquistanês do rapaz lhe diz que ele se ilude achando que encontrará um lugar na sociedade européia, mesmo que namore uma branca: "Daqui a 25 anos ainda chamarão você de negro sujo". Temo que ele tenha razão.

O rapaz é DJ e a moça, professora de música. Não entendi porque o roteiro não explorou melhor a possibilidade de usar essa linguagem universal para falar do relacionamento entre os dois. O que é mostrado, e bem, é o amor como aposta - arriscar uma paixão intensa, mas que pode ser breve, em contraste com a segurança e estabilidade de um casamento arranjado unicamente com o propósito de garantir paz familiar.

Que diabos, melodrama à parte, todo amor que houver nesta vida àqueles que desafiam convenções estúpidas e opõem seus sentimentos ao racismo e às discriminações que dividem este mundo. Neste dia de Natal, paz na terra aos homens e mulheres de boa vontade.

2 Comentarios:

Blogger Glauco Paiva said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Amém, mestre!!

dezembro 26, 2005 12:52 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

A propósito, Fasa, não dá para ver na foto mas tem momentos no filme em que o herói é a sua cara! Só faltou o Uh-Hu!

Abraços

dezembro 26, 2005 5:32 PM  

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