Apenas um Beijo


Dias natalinos de grande tranqüilidade, incomum neste ano tão agitado. Quase na surdina entrou em cartaz um drama de Ken Loach, diretor de grande talento, que sempre vale a pena acompanhar. Gosto especialmente de "Terra e Liberdade", um épico sobre a guerra civil espanhola que é um dos meus filmes favoritos - meu irmão e eu costumamos repetir os diálogos de cor, alguns deles servem até para explicar a crise no PT ("You have been betrayed by your own leaders!").
"Apenas um Beijo" segue sua tradição de misturar histórias românticas com tramas políticas e questões sociais, narrando o caso de amor entre uma mulher branca e um rapaz filho de imigrantes paquistaneses. Tudo se passa na Escócia, numa Glasgow cinzenta onde a única coisa luminosa é a paixão do casal de protagonistas.
Claro que os dois enfrentam todo tipo de preconceito e obstáculo. A família do rapaz não aceita o romance e quer que ele siga os planos de um casamento arranjado. A namorada trabalha numa escola católica e alguns de seus superiores não vêem com bons olhos seu envolvimento amoroso com um muçulmano.
O filme é de 2004 e se eu o tivesse visto há um ano, talvez não tivesse gostado tanto. Alguns personagens são esteriotipados e o roteiro força a mão em vários pontos, caindo no melodrama barato. O que tornou "Apenas um Beijo" muito interessante foi a explosão da revolta dos banlieus franceses e os tumultos raciais na Austrália. Este novo contexto dá outra força às situações retratadas no filme, como o diálogo em que o pai paquistanês do rapaz lhe diz que ele se ilude achando que encontrará um lugar na sociedade européia, mesmo que namore uma branca: "Daqui a 25 anos ainda chamarão você de negro sujo". Temo que ele tenha razão.
O rapaz é DJ e a moça, professora de música. Não entendi porque o roteiro não explorou melhor a possibilidade de usar essa linguagem universal para falar do relacionamento entre os dois. O que é mostrado, e bem, é o amor como aposta - arriscar uma paixão intensa, mas que pode ser breve, em contraste com a segurança e estabilidade de um casamento arranjado unicamente com o propósito de garantir paz familiar.
Que diabos, melodrama à parte, todo amor que houver nesta vida àqueles que desafiam convenções estúpidas e opõem seus sentimentos ao racismo e às discriminações que dividem este mundo. Neste dia de Natal, paz na terra aos homens e mulheres de boa vontade.
2 Comentarios:
Amém, mestre!!
A propósito, Fasa, não dá para ver na foto mas tem momentos no filme em que o herói é a sua cara! Só faltou o Uh-Hu!
Abraços
Postar um comentário
<< Home