Artêmio Cruz não morreu
Uma das preciosidades que garimpei na feira do livro foi o romance "A Morte de Artêmio Cruz", de Carlos Fuentes. Nunca havia lido o famoso escritor mexicano e estou deslumbrado pela beleza do estilo e pela riqueza das observações humanas e sociais do livro. O personagem-título é um empresário e político que, prestes a morrer, embarca num turbilhão de lembranças nas quais sua vida se entrelaça e se confunde com a história recente do México, em particular com as promessas frustradas da Revolução.
Artêmio era um rapaz criado no campo, filho bastardo de um fazendeiro morto nas guerras civis. Jovem impetuoso, alista-se nas tropas da Revolução, onde sobe na hierarquia do exército por uma mistura de coragem e de talento para se aliar ao lado vencedor nas múltiplas mudanças de rumo da turbulenta política de então. Casa-se por interesse com a filha de um grande senhor de terras e ele mesmo se torna um magnata: fazendeiro, empresário, político.
O romance não segue a ordem cronológica, as lembranças de Artêmio vão e vem conforme seus delírios de moribundo. O resultado é um caleidoscópio no qual somente aos poucos vamos reconstruindo a vida de um homem, conhecendo seu grande amor (uma moça que amou quando soldado e que foi fuzilada na Revolução), sua dura relação com a esposa e amantes, o filho que adora e que falece na Espanha, lutando pela República na guerra civil.
Quanto mais Artêmio enriquece e se torna poderoso, mais se acentua sua decadência espiritual e física. Ao fim do livro, o rapaz impulsivo é uma massa de carne doente e fraca, totalmente corrompida, que mesmo em seus últimos momento ainda trama contra os sindicatos que controlam uma de suas ferrovias.
Fuentes é filho de diplomatas e ele mesmo seguiu a carrière, tendo vivido em vários países da América do Sul e da Europa. Escreveu "A Morte de Artêmio Cruz" no início dos anos 60, quando morava na Havana revolucionária. Talvez àquele momento parecesse que a elite mexicana cambaleava moribunda, mas hoje sabemos a História seguiu outro rumo. Os descendentes de Artêmio estão aí vivos e fortes e nestes tempos de Nafta em que um ex-CEO da Coca Cola preside o México, quiçá nem precisem mais pagar o
tributo simbólico de respeito à Revolução.
Fuentes continua inquieto, seu livro mais recente é o libelo "Contra Bush", que escreveu para tentar influenciar o voto hispânico nos EUA.
3 Comentarios:
Oi, Maurício:
Como se diz na minha terra, bem tri este teu comentário sobre o Artêmio.
Mas, guri, passei aqui pra te deixar um abraço especial, desejando que tenhas Festas muito Boas e um ano de 2006 tão especial quanto este que finda.
Feliz Natal e Ótimo Ano Novo!
Abraço da amiga virtual
Regina
Salve, Regina.
Tri obrigado! Estou mergulhado em leituras sobre esta nossa América, principalmente sobre os países andinos, tentando entender o movimento indígena que ganha força na região. Em breve escrevo sobre isso.
Um beijo para você e um grande abraço de Natal a toda essa gente boa do sul maravilha!
Beijos
Ah eu conheci o livro através de um outro livro que fazia referência a várias obras.
Só lendo um trecho me interessei mto pelo livro, pena q a editora já parou de publicá-lo o q torna dificil encontrar o livro
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