Sim, temos Carmen Miranda!
Gostaria de esclarecer alguns pontos:
1- Não sou travesti.
2- Gosto de bananas com aveia, no café da manhã, ou em vitaminas, ou no sorvete. Jamais na cabeça.
3- Não tenho qualquer nostalgia pelo samba dos anos 30 e 40, embora goste muito de Noel Rosa.
Isto posto, vamos aos comentários sobre a biografia de Carmen Miranda, escrita por Ruy Castro. O livro é excelente - uma pesquisa fenomenal não apenas sobre a cantora, mas sobre toda uma época, dos anos 30 aos 50, quando a indústria do disco, do rádio e do cinema passava por grandes transformações e se profissionalizava.
Ruy Castro mostra como a ascensão de Carmen se deu ao mesmo tempo em que o rádio se tornava uma potência no Brasil, projetando artistas como ela para todo o país. Os cassinos produziam grandes shows. Sua inovação como cantora foi ter dado ao samba uma interpretação mais maliciosa, sintonizada com o que havia de mais moderno na época. Além de seus dotes como carisma, beleza e uma simpatia tão contagiante que o leitor acaba ficando um tanto amigo dela.
A imagem esteriotipada que tenho dela veio de seu período nos EUA, quando adotou o figurino da baiana e se deixou infatilizar por Hollywood, para quem uma cantora latino-americana teria necessariamente que falar um inglês atroz e esbanjar na sensualidade. Embora Castro a defenda, dizendo que o mesmo acontecia com artistas como Frank Sinatra, é inevitável perceber que a temporada americana de Carmen foi bem menos fértil do ponto de vista artístico do que seus anos no Brasil.
Do ponto de vista pessoal, a alegre moça que deixou o Brasil vai se tornando uma mulher marcada pela solidão e pela amargura, tentando lidar com um ritmo de trabalho desumano às custas de estimulantes químicos que a tornam dependente e a levam à depressão.
Lendo a história de Carmen tantas décadas depois, fica a forte impressão de um momento de grande criatividade na cultura brasileira, que acabou tendo repercussão internacional - numa versão diluída e esteriotipada - via Hollywood. E vale pelas ótimas narrativas das aventuras de Carmen, Ary Barroso, Assis Valente e outros bambas tão importantes na música do nosso país.
2 Comentarios:
Maurício, uma rápida consulta ao Deus Google diz que a ida de Carmen Miranda aos Estados Unidos era parte da Política de Boa Vizinhança que precedeu a 2ª Guerra Mundial. Sabe alguma coisa a esse respeito?
Salve, Bruno.
Ruy Castro fala bastante nisso. Na verdade, Carmen vai para os EUA a convite de empresários particulares, mas uma vez lá acaba envolvida em alguns projetos patrocinados pelo governo Roosevelt, como os filmes de Walt Disney sobre a América Latina.
O mais engraçado é que vários desses filmes eram cheios de esteriótipos e foram fracassos totais, irritando brasileiros, argentinos e cubanos que eram misturados por roteiristas näo-familiarizados com o continente.
Abraços
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