Venezuela: a batalha pela história
Hoje é o aniversário da queda da ditadura militar de Perez Jimenez, que terminou em 1958 e foi a última que afligiu a Venezuela. Naquele ano os principais partidos e sindicatos assinaram um acordo, conhecido como Punto Fijo, que garantiu a estabilidade no país até os anos 80. A oposiçäo a Chávez está usando a data para vender a idéia de que sua luta contra o governo é inspirada pelos mesmos sentimentos de liberdade da campanha contra Perez Jimenez.
Essa estratégia tem um lado explícito e outro mais sutil. O lado direto vem de manifestaçöes de ruas e artigos de jornal. Ontem foi realizada uma grande marcha contra Chávez. A manifestaçäo reuniu milhares de pessoas em Caracas e protestou contra várias coisas: a prisäo de lìderes oposicionistas, a conduçäo das eleiçöes e as iniciativas de aproximaçäo com outros países da América Latina, em especial Cuba. Chávez é acusado de investir dinheiro demais nesses países, em detrimento da Venezuela. A autoestrada Caracas-La Guaira, interditada (ver post anterior) é o tema mais quente, porque ela é vital para o país por ligar a capital ao aeroporto internacional e ao litoral. As próprias telecomunicaçöes podem ser afetadas, em funçäo de danos a cabos telefônicos.
Outras críticas säo mais sutis. Os jornais e as TVs destacam hoje vários aspectos da participaçäo da Igreja Católica na luta contra a ditadura Perez Jimenez, e também contra o ex-presidente argentino Juan Domingo Perón - que à epoca já havia sido deposto e estava exilado na Venezuela. Essas digressöes históricas estäo ligadas diretamente ao que ocorre atualmente no país, com líderes eclesiásticos protestando contra Chávez e os jornais atacando também o presidente argentino Néstor Kirchner, acusando-o de ameaçar a liberdade de imprensa. Também chovem críticas a Fidel Castro e comunistas em geral. Parece haver mais boa vontade com relaçäo a Evo Morales.
A batalha pela história näo se limita a Perez Jimenez. Bolívar está no centro de tudo na Venezuela: nos nomes das praças, ruas, fundaçöes. Na própria moeda e no novo nome oficial do país - República Bolivariana da Venezuela. A oposiçäo näo questiona a grandeza histórica do Libertador, mas contesta as interpretaçöes e usos que Chávez faz desse líder.
Apesar de toda a movimentaçäo política que vejo por aqui, dois fatos me chamaram a atençäo para um certo desinteresse popular. Perguntei a um taxista qual sua expectativa quanto ao Fórum Social Mundial, que começa amanhä, e ele sequer sabia do evento, apesar de ser comentado diariamente na TV e na imprensa. No hotel, um funcionário chegou a desligar a TV do hall em pleno discurso de posse de Evo Morales. Estou curioso para ver se atitudes como essas se repetiräo pelos próximos dias.
3 Comentarios:
Tem coisas, meu caro, que só a América Latina fazem para você.
socialismo latino-americano? a angústia dos latino-americanos está longe de ser resolvida por um exemplo fracassado como esse! Tampouco os "neo" " ismos" da vida me confortam! Sinto-me como o taxista venezuelano!
Meus caros,
as aventuras seguem (vejam o novo post) mas minhas impressöes sobre Chávez náo estao das melhores.
Abs
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