domingo, fevereiro 12, 2006

Chávez, a palavra e o sangue


A palavra. Sempre que volto de viagens de trabalho pela América Espanhola, escrevo um artigo para o Observatório Político Sul-Americano. A vontade ancestral de contar histórias após o retorno de terras estrangeiras. E também o desejo de refletir sobre o que vi.

O texto sobre a Venezuela será escrito em parceria com um amigo que tratou do país em sua dissertação de mestrado. Provavelmente analisaremos o discurso de Chávez e suas ações no campo das comunicações, como a criação da Telesur. Por conta disso, passei os últimos dias examinando conferências e entrevistas do presidente venezuelano, bem como depoimentos de seus colaboradores mais próximos e recortes dos principais jornais daquele país.

Chávez é um mestre da retórica, um orador que impressiona pela cultura e capacidade de comunicação. Estudando seus discursos, descobri algumas muletas, citações ou episódios que usa com freqüência para que o ajudem a manter o fio condutor ao longo de falas de duas ou três horas.

O sangue. Começa a ficar clara para mim a tradição de lutas políticas às quais ele se filia. Apesar da retórica sobre o “socialismo do século XXI”, sua família é dos caudilhos nacionalistas, mais propensos à insurreição armada do que a organização de um partido ou movimento social. Velasco Alvarado, no Peru, a quem o cadete Chávez conheceu nos anos 70. Omar Torrijos no Panamá. E os próceres guerrilheiros da Venezuela do século XIX, como Bolíviar, Zamorra (um líder camponês, como Pancho Villa) e Maisanta, bisavô do presidente, tão obcecado por sua figura que um amuleto que lhe pertenceu.

Aprendo também pelo “Movimento Bolivariano” liderado por Chávez e que reúne vários generais e coronéis de seu círculo íntimo. Oficiais de origens pobres, que encontraram nas Forças Armadas a possibilidade de ascensão social e acesso à educação superior. Beneficiados pelo Plano Andrés Bello, que introduziu nas academias militares as humanidades e as ciências sociais, em especial a história – fundamental na recuperação de Bolívar como guia ideológico. A revolta dos jovens oficiais contra a cúpula militar corrupta, ligada à oligarquia política. Uma década de conspirações e as duas tentativas de golpe em 1992.

Impossível não pensar no tenentismo brasileiro, aliás citado com admiração por Chávez. Mas estamos no século XXI e não mais na década de 1920. Os tenentes idealistas da época se transformaram nos generais que deram o golpe de 1964. Na Venezuela, o demônio do militarismo também fugiu da garrafa. Receio que logo assumirá novas cores e bandeiras, saindo do controle de seus criadores.

2 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Mestre, Capote não chegou aqui ainda, mas a voz do Philip Seymour Hoffman me irritou muito no trailer! Ainda assim, quero muito assistir ao filme. :)

Match Point é bem legal sim, e bastante diferente mesmo do estilo Woody Allen tradicional. As metáforas que ele usa são ótimas. Vale a pena ver.

fevereiro 13, 2006 2:41 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Pode deixar que vou ver, Nica! Woody Allen voltando ao drama, e desta vez sem a maldita influência do Bergman, é para se conferir com atenção!

Bjs

fevereiro 14, 2006 4:34 PM  

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