E Assim Se Passaram 10 Anos
M-27: Parece letra de bolero.
M-17: Mas é verdade, não se lembra? Eu tenho 17 anos e vou começar a faculdade de jornalismo.
M-27: Claro. Março de 1996. Ou teria sido fevereiro? As datas já ficaram meio desbotadas na minha memória.
M-17: É a idade, velho... Conselhos?
M-27: O que é mesmo que você esperava da universidade?
M-17: Escolhi jornalismo por causa da paixão pela escrita. E porque quero uma carreira que me jogue no turbilhão do mundo, nos acontecimentos do dia.
M-27: Nesse ponto continuamos iguais.
M-17: O que eu quero saber é...
M-27: É o que todos querem. Se você vai ter sucesso como jornalista, se vai ser feliz, essa bobagem toda.
M-17: Bobagem?
M-27: Ah, meu filho.. Pelo que vivi, ser feliz ou ter sucesso não é o que verdadeiramente importa. Não é isso que me faz levantar da cama todas as manhãs. O que está em jogo é algo mais profundo: a experiência de estar vivo. Às vezes você pega uma pauta complicada, espera horas debaixo de sol forte, pega engarrafamento, e no fim é tudo ótimo, entendeu?
M-17: Não, acho que não.
M-27: Tudo bem. Vai levar uns 10 anos.
M-17: E a faculdade?
M-27: Em termos de preparação profissional, será uma porcaria. Mas os muitos amigos que você fará por lá o acompanharão anos a fio, mesmo quando o tempo e a distância disserem "não". Está vendo a coluna ao lado, blogs conspiradores? Metade é deles.
M-17: OK, mas... o que é um blog?
M-27: Esqueci, nessa época você nem acessava a Internet... Um pequeno selvagem. Não importa. Outra coisa: a faculdade vai te dar muito tempo livre para ler. Você aproveitará bastante e mergulhará em Tolstói, Cervantes, Thomas Mann. Também se interessará de maneira mais profunda por história e por política.
M-17: Sempre gostei de política.
M-27: Sei disso. Mas você vai se surpreender em como esse tema se tornará importante na sua vida e na sua carreira.
M-17: As pessoas continuarão a dizer que um dia vou ser presidente, que nem no segundo grau?
M-27: Há muitos malucos neste mundo. Vão seguir te dizendo essa tolice e outras coisas também. Que você vai ser um grande isso, um grande aquilo. Aceite os elogios, são feitos com gentileza e carinho. Mas pé no chão, parceiro. E cuidado para que os sonhos de outras pessoas não determinem as suas próprias aspirações.
M-17: E o romance que sempre quis escrever?
M-27: Essse eu ainda estou te devendo. Mas você vai publicar bastante: artigos em jornais e revistas, textos acadêmicos. Viajará pelo mundo a trabalho, ou pelo menos vai circular bastante pela América Latina, África e Europa. Ganhará prêmios e até homenagens do governo.
M-17: Quem é o presidente daqui a dez anos? Os tucanos ainda estão no poder?
M-27: O Lula ganhou as eleições de 2002.
M-17: Então a Revolução triunfou? Meus ideais estão sendo postos em prática?
M-27: Caramba, que moleque pretencioso. Claro que não. Próxima pergunta.
M-17: Bom, pelas coisas que você está me contando, até que não vou me sair tão mal.
M-27: No balanço geral, vamos levando. Mas você também fez muita besteira. Depois a gente bate um papo sobre isso, quando não tiver ninguém escutando. Por ora, gostaria apenas que você curtisse melhor os bons momentos com as pessoas que vai conhecer. Com freqüência eles são mais fugazes do que você imagina.
M-17: O que eu posso fazer para evitar esses erros?
M-27: E quem disse que você deve?
M-17: Continuo sem entender.
M-27: Você e sua maneira de levar tudo a sério, de buscar sempre uma explicação!
M-17: Mas sou um cara racional!
M-27: Só na aparência. No fundo você é impulsivo como uma ária de ópera, e depois fica tentando racionalizar seu comportamento.
M-17: Os malditos genes calabreses.
M-27: Exato.
M-17: É como termina a minha, ou a nossa, história?
M-27: Continua em aberto. Daqui a 10 anos a gente pergunta para o M-37 como ele está se saindo.
M-17: Valeu. Até 2016.
M-17: Mas é verdade, não se lembra? Eu tenho 17 anos e vou começar a faculdade de jornalismo.
M-27: Claro. Março de 1996. Ou teria sido fevereiro? As datas já ficaram meio desbotadas na minha memória.
M-17: É a idade, velho... Conselhos?
M-27: O que é mesmo que você esperava da universidade?
M-17: Escolhi jornalismo por causa da paixão pela escrita. E porque quero uma carreira que me jogue no turbilhão do mundo, nos acontecimentos do dia.
M-27: Nesse ponto continuamos iguais.
M-17: O que eu quero saber é...
M-27: É o que todos querem. Se você vai ter sucesso como jornalista, se vai ser feliz, essa bobagem toda.
M-17: Bobagem?
M-27: Ah, meu filho.. Pelo que vivi, ser feliz ou ter sucesso não é o que verdadeiramente importa. Não é isso que me faz levantar da cama todas as manhãs. O que está em jogo é algo mais profundo: a experiência de estar vivo. Às vezes você pega uma pauta complicada, espera horas debaixo de sol forte, pega engarrafamento, e no fim é tudo ótimo, entendeu?
M-17: Não, acho que não.
M-27: Tudo bem. Vai levar uns 10 anos.
M-17: E a faculdade?
M-27: Em termos de preparação profissional, será uma porcaria. Mas os muitos amigos que você fará por lá o acompanharão anos a fio, mesmo quando o tempo e a distância disserem "não". Está vendo a coluna ao lado, blogs conspiradores? Metade é deles.
M-17: OK, mas... o que é um blog?
M-27: Esqueci, nessa época você nem acessava a Internet... Um pequeno selvagem. Não importa. Outra coisa: a faculdade vai te dar muito tempo livre para ler. Você aproveitará bastante e mergulhará em Tolstói, Cervantes, Thomas Mann. Também se interessará de maneira mais profunda por história e por política.
M-17: Sempre gostei de política.
M-27: Sei disso. Mas você vai se surpreender em como esse tema se tornará importante na sua vida e na sua carreira.
M-17: As pessoas continuarão a dizer que um dia vou ser presidente, que nem no segundo grau?
M-27: Há muitos malucos neste mundo. Vão seguir te dizendo essa tolice e outras coisas também. Que você vai ser um grande isso, um grande aquilo. Aceite os elogios, são feitos com gentileza e carinho. Mas pé no chão, parceiro. E cuidado para que os sonhos de outras pessoas não determinem as suas próprias aspirações.
M-17: E o romance que sempre quis escrever?
M-27: Essse eu ainda estou te devendo. Mas você vai publicar bastante: artigos em jornais e revistas, textos acadêmicos. Viajará pelo mundo a trabalho, ou pelo menos vai circular bastante pela América Latina, África e Europa. Ganhará prêmios e até homenagens do governo.
M-17: Quem é o presidente daqui a dez anos? Os tucanos ainda estão no poder?
M-27: O Lula ganhou as eleições de 2002.
M-17: Então a Revolução triunfou? Meus ideais estão sendo postos em prática?
M-27: Caramba, que moleque pretencioso. Claro que não. Próxima pergunta.
M-17: Bom, pelas coisas que você está me contando, até que não vou me sair tão mal.
M-27: No balanço geral, vamos levando. Mas você também fez muita besteira. Depois a gente bate um papo sobre isso, quando não tiver ninguém escutando. Por ora, gostaria apenas que você curtisse melhor os bons momentos com as pessoas que vai conhecer. Com freqüência eles são mais fugazes do que você imagina.
M-17: O que eu posso fazer para evitar esses erros?
M-27: E quem disse que você deve?
M-17: Continuo sem entender.
M-27: Você e sua maneira de levar tudo a sério, de buscar sempre uma explicação!
M-17: Mas sou um cara racional!
M-27: Só na aparência. No fundo você é impulsivo como uma ária de ópera, e depois fica tentando racionalizar seu comportamento.
M-17: Os malditos genes calabreses.
M-27: Exato.
M-17: É como termina a minha, ou a nossa, história?
M-27: Continua em aberto. Daqui a 10 anos a gente pergunta para o M-37 como ele está se saindo.
M-17: Valeu. Até 2016.
10 Comentarios:
"Diante de mim mesmo
como um espelho, me espalho,
passados,presente,passantes
o que sou? me pergunto
e o-que-deixei-de-ser me responde antes..."
Tô escrevendo pra agradecer os bons minutos de leitura oferecidos por ASSIM SE PASSARAM 10 ANOS e aqueles anteriores, desde que caí aqui em dezembro de 2005.
Abraço do sertão de PE.
Oi, Maurício!
Brilhante o "E Assim Se Passaram 10 Anos".
Interiormente já mantive algumas conversas destas, afinal não sou nenhuma garotinha, e, podes ter certeza, a melhor coisa a fazer é nos levarmos com leveza e sabedoria. Minha mãe me ensinou que era importante saber perdoar os outros, a vida me ensinou que mais importante é saber perdoar a mim mesma. Também me foi ensinado que era importante gostar dos outros, a vida me ensinou que mais importante é eu gostar de mim para poder gostar dos outros a partir daí. Teu texto está me deixando muito reflexiva, mas nem poderia ser diferente, é o texto mais "reflexivo" que já me deparei.
Obrigada, Maurício, pelo link no blog, fiquei lisonjeada, apesar de que o endereço não está abrindo, pois o kitblog conseguiu a proeza de tirar quase 3 mil blogs do ar. Espero voltar em breve, estou temporariamente no blogger.
E essa conspiradora de cá estará acompanhando o diálogo em 2016 também. :)
Car@s,
obrigado pelos comentários. Acho que todos nós precisamos manter uns diálogos assim de vez em quando. O M-37, evidentemente, já está em gestão no M-17 e no M-27, mas só os deuses sabem como ele será...
Abraços
Mauricio, o importante é nunca se perder de si mesmo.Isso parece fácil aos 18, mas fica difícil quando a vida começa a te jogar para lá e para cá, para bem longe de onde se começou.
A rotina dos anos pode ser a mais cruel das vilãs.
Mas quem permanece em contato com seus sonhos sempre encontra o caminho de volta.
E olha que já estou na V-48 :-)
Mas sempre em busca...
bjs,
Vera
Vera,
quem me dera chegar ao M-48 com metade da sua disposição!
Beijo
Muito bom o diálogo, Maurício!
Só faltou dizer ao M-17 que dali a 10 anos ele não estaria trabalhando como jornalista. Se bem que acho que escrever artigo para a página de opinião do Globo é bem melhor que correr atrás de declaração de político para a matéria da página 3.
Grande Bruno,
eis o que tenho feito como jornalista, só nos últimos dias:
- Artigo sobre empresas brasileiras na China, para o IbaseNet
- Perfil sobre uma líder feminista iraquiana, para o Jornal da Cidadania
- Artigo fazendo balanço da cidadania brasileira nos últimos 25 anos, para a Folha Dirigida
- Artigo de opinião para o Jornal do Brasil (tema a definir, para breve)
Quer dizer, continuo com o jornalismo na veia, mesmo que meus cargos sejam "pesquisador" e "professor".
A propósito, qual é o endereço do seu novo blog?
Abraços
Appreciаte the гесommеndation.
Lеt me try it out.
Herе is my sіte - payday loans
Thank you foг the gooԁ writeup. Ιt in faсt was а аmuѕement аccount it.
Look advanceԁ tο far adԁed agreeablе from yοu!
By the ωay, hοw could we сommunicate?
My web-site: payday loans uk
Postar um comentário
<< Home