quarta-feira, março 08, 2006

Lula em Londres


Doces poderes: nosso presidente e sua corte andam de carruagem por Londres, são recebidos em noite de gala pela rainha. Êta, vida boa. Lula também deu uma longa entrevista a The Economist. Saiu-se bem. No exterior, as pessoas me perguntam sobre ele com expectativas muito idealizadas, projetando no operário que virou presidente todos os sonhos frustrados de transformação social. Pena que seja grande a distância entre a retórica do governo brasileiro e a realidade.

Houve constrangimento porque a rainha não pediu desculpas pelo assassinato do brasileiro Jean Charles. Ao invés disso, deu uma bronca em Lula pelas dificuldades do Brasil em preservar o Meio Ambiente. O presidente alegou que diminuiu a devastação na Amazônia, algo em que acho difícil acreditar, visto que a expansão da fronteira agrícola da soja tem destruído enormes áreas de floresta. E o governo também defende a construção de hidreelétricas na região, em projetos que lembram muito os da ditadura militar (basicamente, são para favorecer o agronegócio e as grandes indústrias), e são criticados por ambientalistas.

O Brasil tem buscado apoio do Reino Unido para diminuir os subsídios agrícolas da União Européia. Escolha acertada porque Tony Blair e Chirac trocam farpas por conta do tema, os britânicos não estão muito interessados em sustentar os fazendeiros franceses. A UE é o maior parceiro comercial do Brasil, e a maioria das exportações brasileiras para a Europa são produtos agrícolas. Ainda que, simultaneamente à visita de Lula, a UE tenha imposto um embargo ao mel do Brasil, alegando problemas sanitários.

Claro que também existem pontos positivos na política brasileira e os programas de biocombustível estão ganhando destaque merecido, num contexto de preços crescentes de petróleo. Também há uma certa demanda por propostas sociais vindas do mundo em desenvolvimento, e Lula foi muito habilidoso em se posicionar como um líder dessa agenda – como conciliar tal imagem com os altíssimos juros e impostos de seu governo, são outros quinhentos.

O ponto mais amargo da entrevista à The Economist foi um comentário da revista afirmando que Lula poderia conduzir a transição a uma “política mais limpa” no Brasil. Esqueceram de observar que toda a cúpula do partido do presidente foi cassada e/ou renunciou em função do envolvimento com a corrupção. Mas nenhum dos sobreviventes do PT parece muito angustiado, em especial após a retomada do crescimento de Lula nas pesquisas eleitorais, colocando-o novamente como favorito para a disputa presidencial de outubro.

5 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

A cobertura da visita presidencial aqui é grande, e o projeto de biocombustíveis parece bastante interessante: a idéia é promover o cultivo da cana no sul da África, gerando empregos e divisas pros países de lá, e investir pesado em promover o bio-etanol (nosso famoso álcool) aqui no Reino Unido. Estou acompanhando de perto as novidades. :)

março 09, 2006 1:23 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Bem, eu sei que existem dados oficiais que mostram a diminuição gradativa do desmatamento. Meu irmão trabalhava no Ministério do Meio Ambiente e me mostrou alguns relatórios.

Isso não é resultado apenas da gestão da Marina no Ministério do Meio Ambiente, mas vários outros fatores. Aqui no Pará, por exemplo, o governador Simão Jatene, que é tucano, decidiu não conceder empréstimos do Estado para projetos agroindustriais que alarguem a fronteira agrícola. Eles até conseguem o licenciamento, se estiver tudo de acordo, mas têm que fazer o investimento apenas com recursos próprios.

Sobre a questão das hidroelétricas, o principal problema, conforme apontado no blog Samba do Avião, é a enorme perda de energia com longas linhas de transmissão.

Mas o projeto da usina de Belo Monte é muito melhor que os anteriores e bem menos agressivo ao meio ambiente. Vai alagar apenas áreas que já alagam na cheia e se aproveita da curva do rio para usar a força da água na casa das máquinas, que ficaria 50 km abaixo da barragem. O jornalista Lúcio Flávio Pinto tem falado sobre o assunto em sua newsletter.

Isso foi resultado da pressão dos ambientalistas. Hoje seria impossível aprovar um projeto como o de Balbina, com um lago enorme e pouca geração de energia.

março 10, 2006 7:30 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Bem, eu sei que existem dados oficiais que mostram a diminuição gradativa do desmatamento. Meu irmão trabalhava no Ministério do Meio Ambiente e me mostrou alguns relatórios.

Isso não é resultado apenas da gestão da Marina no Ministério do Meio Ambiente, mas vários outros fatores. Aqui no Pará, por exemplo, o governador Simão Jatene, que é tucano, decidiu não conceder empréstimos do Estado para projetos agroindustriais que alarguem a fronteira agrícola. Eles até conseguem o licenciamento, se estiver tudo de acordo, mas têm que fazer o investimento apenas com recursos próprios.

Sobre a questão das hidroelétricas, o principal problema, conforme apontado no blog Samba do Avião, é a enorme perda de energia com longas linhas de transmissão.

Mas o projeto da usina de Belo Monte é muito melhor que os anteriores e bem menos agressivo ao meio ambiente. Vai alagar apenas áreas que já alagam na cheia e se aproveita da curva do rio para usar a força da água na casa das máquinas, que ficaria 50 km abaixo da barragem. O jornalista Lúcio Flávio Pinto tem falado sobre o assunto em sua newsletter.

Isso foi resultado da pressão dos ambientalistas. Hoje seria impossível aprovar um projeto como o de Balbina, com um lago enorme e pouca geração de energia.

março 11, 2006 5:22 AM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Oi, Nica.

Acompanhei um pouco da cobertura pelo Guardian e realmente teve bastante destaque. A TV até reproduziu a charge do jornal, mostrando a polícia britânica de armas apontadas para Lula.

Salve, Marcus.

As hidrelétricas do Madeira estão sendo questionadas por diversas razões, inclusive porque alguns técnicos afirmam que elas não irão criar uma hidrovia para a Bolívia, como defende o governo.

Também há muitas críticas com relação ao deslocamento de populações, emissão de gases poluentes (metano, gás carbônico) e redução da biodiversidade.

É claro que o projeto não é a catástrofe que foram Tucuruí ou Samuel, mas ainda é bastante frágil em termos ambientais.

Abraços

março 12, 2006 2:51 PM  
Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

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