Paixão e Exceção: Borges, Evita, Montoneros
Continuo nas leituras sobre a Argentina e andei me deliciando com “A Paixão e a Exceção – Borges, Eva Perón, Montoneros”, de Beatriz Sarlo, uma das melhores críticas literárias argentinas, país em que a literatura é mania nacional só rivalizada pelo futebol. Mais do que isso, Sarlo é uma ensaísta social de grande talento, que constrói pontes inesperadas entre cultura e política. Afinal, como ligar um escritor do chamado realismo mágico com a mitológica primeira-dama e o maior grupo guerrilheiro da América Latina? A resposta desvenda tramas da Argentina contemporânea.
Em 1970 os Montoneros fizeram uma estréia explosiva na política, seqüestrando e assassinando o general e ex-presidente Pedro Aramburu. Em 1955, ele havia liderado o golpe militar que depôs Perón. Um dos atos da ditadura recém-estabelecida foi sumir com o cadáver de Evita, que estava exposto na principal central sindical do país. O corpo permaneceu desaparecido por quase 20 anos – uma das exigências dos Montoneros para soltar Aramburu era que os militares devolvessem Evita.
Ora, o peronismo não acabou com a deposição e exílio do líder. Pelo contrário, a ausência lhe deu um ar místico e o movimento idealizou a figura do ex-presidente e de sua primeira-dama. Na radicalização política dos anos 60, um grupo de católicos de esquerda misturou Cristo, Marx, Perón e Evita e fundou os Montoneros. O nome é o das antigas colunas guerrilheiras dos Pampas, uma espécie de cangaço que existiu na época das guerras civis do século XIX.
É claro que essa mistura inconsistente e explosiva não podia dar boa coisa e poucos grupos de luta armada foram tão ousados e violentos. Na mesma época, o mais respeitado dos escritores argentinos, Jorge Luís Borges, escreveu contos bizarros sobre vinganças regadas a sangue e degolas, pouco comuns em sua obra. Na brilhante análise de Sarlo, Borges – em geral considerado fantasioso e apolítico – torna-se o comentarista arguto de uma Argentina enlouquecida pelas paixões e agressões políticas, que nem a morte consegue encerrar.
Em tempo: os Montoneros seqüestraram novamente Aramburu – isto é, seu cadáver – quatro anos depois da primeira vez. Exigiram novamente a devolução do corpo de Evita. Foram atendidos.
O livro de Sarlo é uma obra-prima que começa com o exame de como Evita se tornou um mito, discutindo sua meteórica ascensão de atriz de rádio de segunda linha ao posto de primeira-dama, papel que exerceu de forma inovadora, posicionando-se como uma figura pública com uma mensagem social na era de política de massas. Sarlo examina as velhas fotos, os vestidos de Evita e faz uma análise inovadora da propaganda dos peronistas, mostrando como estavam atentos para a força política do rádio, do cinema e da fotografia.
Sarlo esmiuça com a mesma atenção os documentos dos Montoneros, lendo seus manifestos como um gênero literário de suspense e melodrama cristão e desvendando as entrelinhas de sua correspondência com o Perón. Exilado na Espanha, o ex-presidente achou que podia manipular seus jovens e revolucionários admiradores, com conseqüências trágicas para todos.
Pensemos um pouco nelas, nesta semana em que a Argentina relembra os 30 anos de seu mais recente golpe militar. Oxalá tenha sido o último.
4 Comentarios:
Tomara... Mas com essa história de centrais de inteligência da Marinha espionando todo mundo... sei não, hein! O pior é pensar que, se outro golpe chegar por lá, Búzios vai ficar realmente insuportável.
Não se preocupe, meu caro. Com os métodos de gestão de prisioneiros da Marinha argentina, a galera não chega nem a Porto Alegre, a não ser que a corrente leve os cadáveres...
Abs
Pobre Argentina - tão perto do Br e tão longe da Lógica.
Dias atrás conversando com um amigo argentino mais velho, ele me conta que a Dona Evita chamava os empresários a Casa Rosada (alias nome de um puteiro aqui em CWB) e pedia uma contribuição para a Fundação Eva Perón - nunca menos que 1 milhão de dólares (...isso a época !!!) e se o sujeito não desse, era taxado pelos jornais (provavelmente pelo mesmo Lá Nacion bonzinho de agora) de inimigo do povo (da-lhe Ibsen) , "explotador de los descamisados” e outros chavões Peronistas.
Dai pra uma noite queimarem o Jokey Club, foi um pulinho.
Piazolla dizia (e Borges confirmava) que mais que os militares, Perón foi quem destruiu a argentina, dividindo a nação, maniqueistamente entre peronistas e guzanos, como fica claro no texto do Grodona.
A mim parece que os argentinos são hiperbólicos. O Vargas de lá foi muito pior que o nosso talvez por ter pegado um pais já rico, cujo Banco Central dizia ele aos trabalhadores a partir da famosa sacadinha onde Madona depois filmaria, estava tão cheio de ouro, que era impossível caminhar lá dentro.
Os Lula de lá (enquanto lideres Sindicais ) inflados por Perón eram corruptos a Medula. Certa vez em Punta, perguntei ao amigo uruguaio, a quem pertencia determinada Mansão que lembrava San Simenon do Hearst, se a Amalita ???, ao Perez Compac ??? ao Pescarmona, los duenos de Argentina. Não, ao ex presidente da CGT.
O Mariga deles, o tal Fiermenich, auto intitulado secretario geral dos montoneros, o braço armado do Peronismo, hoje vivendo no exílio dourado próximo a Barcelona , e que num certo momento briga com Peron (???), contava lá por 74 com um caixa de mais de 100 milhões de dólares, fruto de seqüestros assaltos e extorções. Só o dos irmãos Born, donos a época da atual Bunge, rendeu 60. E eles, os Montos, era considerados "blandos" pela turma do ERP, liderado por outra gracinha de pessoa, um tal Santucho.
Se comparados com a guerrilha brasileira cujo arsenal era um 22 , duas atiradeiras e uma garrucha da guerra do Paraguai, da para entender (mas não justificar, por favor) por que os Médici de là , Massera, Videla, Mason entre outros, mataram 30 mil ao invés dos parcos 300 daqui.
E talvez tenham sido menos mortos do que os Montoneros/ ERP teriam contabilizado se tivessem chegado ao poder, antes de começar a se matar uns aos outros.
Veja o Chile. Odeio o Pinochet tanto quanto qualquer um que se preze, mas assista o excelente, embora longo, Batalha do Chile e entendera que se Allende não caísse para a direita momia, cairia para a esquerda do ultra stalinista do MIR. Aquilo só se tornaria outra Cuba por cima do cadáver de Kissinger e de muitíssimos chilenos, num paredão que iria de Iquique a Punta Arenas. Caso contrario a sabotagem de parte importante da classe media, industriais e outros inviabilizaria o pais. Ou seja, a partir de certo momento, carnificina seria inevitável. O que você acha que o doce Che Guevara se ocupava, no inicio de 1960 ?
Mas de volta a Argentina, em meio a anarquia setentista, o capital, bicho arisco como é, transferiu as unidades produtivas para outros paises, Br incluso e enviou tanto dinheiro quanto possível para o exterior, fazendo o Banestado daqui parecer banco de praça.
Dai fica fácil entender o resto da historia.
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