Crônica de uma Certa Buenos Aires
Borges escreveu que Buenos Aires não tinha História, era eterna como o mar.
Tomás Eloy Martinez discorda. Conheci este escritor argentino ao ler seu ótimo Santa Evita. Seu romance mais recente, O Cantor de Tango, é uma obra-prima, talvez o melhor livro de ficção contemporânea da América Latina.
O protagonista é Bruno, americano que cursa o doutorado em literatura pesquisando para uma tese sobre Borges e o tango. O mestre das letras argentinas só gostava das canções do início do século XX, o que veio depois seria “deturpação genovesa” do verdadeiro tango, executado nos bordéis portenhos. Bruno ouve a respeito de um misterioso Julio Martel, espécie de lenda urbana – cantor de talento excepcional, que não grava CDs, apresenta-se à esmo por Buenos Aires, só se dedica ao repertório antigo e teria voz fabulosa, melhor que a de Gardel.
Claro que o doutorando resolve ir a Buenos Aires atrás de Martel, enquanto pesquisa para a tese. Seu período na cidade, o segundo semestre de 2001, coincide com a mais aguda crise da Argentina, que culminou numa insurreição popular contra o governo De La Rua e os políticos em geral. Que se vayan todos.
À medida que o tempo passa, a caçada de Bruno pelo cantor de tango começa a se misturar com o turbilhão social de Buenos Aires e se transforma num hino de amor à cidade e à tradição de lutas que ela encarna, num percurso que vai dos militantes sindicais anarquistas aos combates contra a ditadura e as jornadas de 2001. Com espaço para descrições suculentas dos famosos cafés e livrarias, das danças e festas, das obsessões por Borges (o conto “O Aleph” é citação constante).
4 Comentarios:
que inveja mestre.. Ja foi pra fila, mas sabe-se la quando vai chegar a vez dele.. Como suas recomendações nunca sao ruins, de repente ele fura a fila.
Caríssimos,
são apenas 200 páginas, seguidas de um apêndice com as letras em português e espanhol de todos os tangos citados.
Dá para ler rápido, mas recomendo degustação lenta, como se faz com bom vinho e conversa.
Fica a dica inclusive para o estoque da futura livraria do Clio, que tem tudo para virar um tremendo ponto de encontro da comunidade carioca da RIs.
Abração
Lá vou eu pra livraria também. Fiquei com água na boca para ler. Os hermanos que não me escutem, mas adoro Buenos Aires e adoro tango.
beijos!
Querida,
pois faz muito bem! A cidade é o máximo e o livro do Eloy Martinez, emocionante. Fiquei com nó na garganta em vários momentos.
beijos
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