Planície
Estamos com uma campanha no Ibase em homenagem aos 70 anos de nascimento de Betinho, fundador do instituto. Uma das atividades é uma série de visitas a escolas, tarefa que coube a um grupo de jovens pesquisadores, incluindo eu. Resolvemos romper com o padrão tradicional de palestra seguida de debate e fizemos parceria com o Centro do Teatro do Oprimido. Montamos uma dinâmica com exercícios teatrais preparada por Augusto Boal e a usamos para tentar discutir os problemas dos estudantes.
As visitas começaram nesta semana e ontem estive em uma escola na Baixada Fluminense, com uma turma do segundo ano do ensino médio. A experiência foi marcante, porque a apatia dos jovens virou nossos planos pelo avesso. Não é que estivessem desinteressados. Longe disso, dava para perceber pelos olhares e gestos a inquietação e a vontade de participar. Contudo, não conseguiam coragem para expressar suas idéias e sentimentos. Ao ponto em que suspendemos a dinâmica. Puxei um debate sobre os problemas que enfrentavam na escola, as expectativas para o vestibular.
A maioria das reclamações dizia respeito aos problemas com professores, falta de diálogo, dificuldades da infra-estrutura deficiente da escola. A conversa sobre o mundo lá fora não conseguiu engrenar. Melhorou um pouco quando me apresentei como professor universitário - passaram até a me chamar de "senhor", apesar dos meus protestos (detesto esse tratamento!). Contei alguns casos do cotidiano acadêmico que despertaram curiosidade, quiseram saber até o que eu ensino.
A professora da turma depois comentou conosco que era bobagem tentarmos algo com aqueles alunos, eles eram muito ruins e não adiantaria. Claro que com esse nível de estimulo, a auto-estima daqueles jovens está na lona. A experiência de ontem foi extrema, mas os mesmos problemas se repetiram em menor grau nas outras visitas.
Não se trata de pobreza. Lecionei três anos num pré-vestibular comunitário numa região tão ou mais carente do que a Baixada. O que faz a diferença são outros fatores: presença de grupos culturais, de organizações religiosas, movimento de moradores ou de estudantes. A participação em associações abre os horizontes, dá confiança, ensina a se relacionar com o mundo mais amplo, fora da esfera da família e amigos íntimos.
Fiquei com o sentimento que passo tempo demais na Montanha Mágica e na Torre de Marfim e que é preciso descer à planície e aprender com o país real. O fosso é grande, mas sei por experiência própria que ele pode ser transposto e que os ganhos são extraordinários.
A propósito, a escola que visitei fez um simulado do referendo. Claro que com aquele nível de sociabilidade e confiança mútua, a vitória foi do "não".
As visitas começaram nesta semana e ontem estive em uma escola na Baixada Fluminense, com uma turma do segundo ano do ensino médio. A experiência foi marcante, porque a apatia dos jovens virou nossos planos pelo avesso. Não é que estivessem desinteressados. Longe disso, dava para perceber pelos olhares e gestos a inquietação e a vontade de participar. Contudo, não conseguiam coragem para expressar suas idéias e sentimentos. Ao ponto em que suspendemos a dinâmica. Puxei um debate sobre os problemas que enfrentavam na escola, as expectativas para o vestibular.
A maioria das reclamações dizia respeito aos problemas com professores, falta de diálogo, dificuldades da infra-estrutura deficiente da escola. A conversa sobre o mundo lá fora não conseguiu engrenar. Melhorou um pouco quando me apresentei como professor universitário - passaram até a me chamar de "senhor", apesar dos meus protestos (detesto esse tratamento!). Contei alguns casos do cotidiano acadêmico que despertaram curiosidade, quiseram saber até o que eu ensino.
A professora da turma depois comentou conosco que era bobagem tentarmos algo com aqueles alunos, eles eram muito ruins e não adiantaria. Claro que com esse nível de estimulo, a auto-estima daqueles jovens está na lona. A experiência de ontem foi extrema, mas os mesmos problemas se repetiram em menor grau nas outras visitas.
Não se trata de pobreza. Lecionei três anos num pré-vestibular comunitário numa região tão ou mais carente do que a Baixada. O que faz a diferença são outros fatores: presença de grupos culturais, de organizações religiosas, movimento de moradores ou de estudantes. A participação em associações abre os horizontes, dá confiança, ensina a se relacionar com o mundo mais amplo, fora da esfera da família e amigos íntimos.
Fiquei com o sentimento que passo tempo demais na Montanha Mágica e na Torre de Marfim e que é preciso descer à planície e aprender com o país real. O fosso é grande, mas sei por experiência própria que ele pode ser transposto e que os ganhos são extraordinários.
A propósito, a escola que visitei fez um simulado do referendo. Claro que com aquele nível de sociabilidade e confiança mútua, a vitória foi do "não".
4 Comentarios:
Maurício, mudei minha posição, e vou votar no SIM.
Sei lá, todos os malucos e extremistas estão fazendo campanha pelo NÃO. Jair Bolsonaro, MV-Brasil, Olavo de Carvalho, revista Veja, Zé Maria e o PSTU. Não quero ficar no meio deles.
E, assistindo a isso, muita gente boa que queria votar no SIM, mas que já perdeu todas as suas forças e acha que o Estado não fazer valer o resultado do referendo, e por isso escolheu a outra opção.
Realmente, estamos mal...
E eu, que queria tanto sair das planícies e passar pelo menos quinze segundos na Montanha Mágica e na Torre de Marfim... ;)
Sobre o referendo, não tenho dúvidas. O NÃO vencerá (infelizmente). Em poucos minutos saberemos.
Um abraço.
E eu, que queria tanto sair das planícies e passar pelo menos quinze segundos na Montanha Mágica e na Torre de Marfim... ;)
Sobre o referendo, não tenho dúvidas. O NÃO vencerá (infelizmente). Em poucos minutos saberemos.
Um abraço.
Pois é, meus caros, o não ganhou... A Planície falou e seu recado foi bem diferente do que o da Torre de Marfim.
Abraços
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