De Te Fabula Narratur
Assisti aos dois primeiros episódios de "Roma", a nova minissérie da HBO, e fiquei deslumbrado. Roteiro primoroso, misturando personagens históricos e fictícios, um excelente tratamento das questões políticas e a Cidade Eterna reconstituída como acredito que ela tenha sido: uma metrópole caótica, suja, colorida, selvagem como uma capital do terceiro mundo.
Os protagonistas da série são dois legionários romanos, o centurião (uma espécie de sargento) Lucius Vorenus, um cidadão-modelo da República, e o soldado Titus Pullo, fanfarrão, mulherengo e amante de brigas e confusões. Ambos são citados de passagem no livro de Júlio César sobre a guerra da Gália, como exemplos da disciplina romana: odiavam-se, mas sempre lutavam juntos. Os produtores da série aproveitaram o gancho e desenvolveram as personalidades numa amizade instável, dividida também pela conturbada política da época.
E, aliás, que período! Para mim, o mais fascinante da história de Roma: a República está em seus anos finais, rachada entre a apatia e a corrupção dos aristocratas no Senado e a ascensão vertiginosa de César, que apesar de nobre, cresce defendendo as causas da plebe, mas prepara também o caminho para o poder absoluto que seu sobrinho-neto Octavius consolidará como o primeiro imperador.
Uma poderosa República, cuja conquista de um império acabou destruindo os valores tradicionais de austeridade e sacrifício que a tornaram grande, com o aumento das desigualdades sociais e a política se tornando um jogo corrupto de compra de votos e populismo escrachado. Hummm.... Soa familiar? Para citar Ovídio, "De te fabula narratur" - a história que conto é sobre você. Roma sempre foi uma espécie de espelho para as ambições internacionais dos EUA, desde os tempos em que o público se identificava com os povos oprimidos pelo Império (Spartacus, Ben Hur, Quo Vadis?) até o momento em que passou a torcer pela superpotência (Gladiador). A nova minissérie é sobretudo a narrativa de como a construção do império destrói a ética da república.
3 Comentarios:
Maurício,
Você tem alguma obra crítica em torno de Raízes do Brasil, mas de fundo metodológico, que poderia me recomendar?
Um abraço,
Anjo,
o melhor texto que conheço sobre Sérgio Buarque é o prefácio de Antônio Cândido à edição da Cia das Letras do "Raízes do Brasil". Tente também "Banquete nos Trópicos", de Lourenço Mota (org.).
Velvet,
a NET está cobrando R$70/mês para adicionar a HBO. Por esse preço, é melhor esperar um pouco e comprar a caixa dos DVDs.
Abraços
Pupo,
os atores são ótimos, mas com um physique du rôle mais para a Royal Shakespeare do que para o Fórum.
abraços
Postar um comentário
<< Home