quinta-feira, setembro 29, 2005

Pelo Sim ao Desarmamento


Em 23 de outubro teremos o referendo sobre o Estatuto do Desarmamento. Quem votar pelo “sim” optará pela probição da venda de armas e munições em nosso país. Estou em campanha por essa escolha – acredito que é uma excelente oportunidade para diminuir a violência. Nem sempre pensei assim. No início, era contrário ao Estatuto, por achar que ele não resolveria o essencial - a posse de armas ilegais pelos criminosos.

O que me fez mudar de idéia foi a descoberta das estatísticas sobre homicídios no Brasil. A maior parte das mortes por amas de fogo em nosso país não ocorre pela ação de traficantes ou ladrões. Segundo o Núcleo de Estudos da Violência da USP, 90% acontecem por motivos fúteis (brigas de bar, de vizinhos, de trânsito) ou então em crimes passionais, principalmente de homens contra mulheres.

O Estatuto terá um impacto sobre as armas ilegais em posse dos criminosos? Talvez. Creio que sim, porque dificultará o acesso à munição, que precisará ser obtida por vias clandestinas, o que sempre eleva seu custo. Além disso, a lei cria instrumentos que facilitam a ação policial, como tornar o porte ilegal um crime inafiançável.

O texto do Estatuto está disponível no ótimo site sobre desarmamento montado pelo Senado. A lei é pequena, uma leitura atenta toma pouco minutos. O Brasil é pioneiro ao decidir o posse de armas por referendo e provavelmente a experiência terá amplo impacto internacional, sobretudo na América Latina.

4 Comentarios:

Blogger Julia Sant'Anna said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

BB, fico pensando exatamente nisso... Enquanto tem muita gente pensando em legalizar as drogas exatamente para tentar solucionar o problema do tráfico/violência (o que não é o meu caso, mas...), estaríamos indo na direção contrária com a aprovação do estatuto, não? O que vc acha, Maurício?
Acho que esta é a primeira vez em que me vejo no grupo dos "indecisos" às vésperas da ida às urnas...

outubro 01, 2005 4:18 AM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Car@s,

os dados mostram que atualmente 75% das armas apreendidas com bandidos são ilegais. O quarto restante é adquirido dentro da lei.

Ou seja, o tráfico de armas já é muito forte e portanto não será a proibição que irá criá-lo.

O ponto central do Estatuto é desarmar os cidadãos comuns, que por incrível que pareça são bem mais letais do que os bandidos.

Afinal, além dos homicídios por razões fúteis ou passionais, ainda acontecem os acidentes, as crianças que pegam a arma do pai etc.

Abraços

outubro 01, 2005 10:46 AM  
Blogger Bruno Lopes said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

O estatuto do desarmamento já está valendo, o que está sendo votado é a proibição do comércio de armas. Atualmente, quase ninguém pode andar armado na rua se não for policial. Ou bandido, o que dá quase no mesmo.

Concordo com o BB: não quero comprar um arma, mas proibir seu comércio vai fortalecer o mercado negro.

Falo isso mesmo sendo um "beneficiário". Segundo a tábua de vida do IBGE, para cada mulher entre 10 e 39 anos que morre por causa externa, 5 homens tombam.

Além das piscinas, carros matam milhares de crianças todo ano. Vamos partir para a proibição do comércio de carros então?

O que estou tentando dizer é que, colocando na balança, a proibição do comércio pode criar mais problemas que vantagens.

outubro 02, 2005 8:34 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Alessandro,

Um sujeito que enche a cara de cachaça e briga com a patroa pode virar um perigo à vida dela se estiver com um revólver por perto. Deus me livre que ele se aproxime de uma faca, mas convenhamos que uma pistola é bem mais letal.

Os dados do Levitt são contestados dentro dos EUA pela própria polícia. O FBI divulgou estatísticas sobre o uso de armas de fogo que contrariam os números apresentados no livro dele.

É claro que todos temos o direito a auto-defesa, mas ele não inclui, por exemplo, a posse de uma metralhadora ou um tanque de guerra. Espero que em breve exclua também as armas de fogo, até porque é ilusão achar que se está a salvo só porque tem um revólver na cabeceira.


Bruno,

Acredito que a proibição de armas e munições irá aumentar a dificuldade em obter ambas no mercado ilegal. Vai resolver o problema? Não. Pode ser que melhore um pouco. Mas creio que o essencial da lei é desarmar os cidadãos comuns, que são mais perigosos do que os bandidos.

Espero que ninguém queira proibir os carros, mas as leis de trânsito nos obrigam a usar cinto de segurança e diminuir a velocidade perto de escolas por boas razões. O problema com as armas é que não existem restrições equivalentes que protegam as crianças ou mesmo seus pais.

Abraços

outubro 03, 2005 10:18 AM  

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