terça-feira, setembro 20, 2005

Impasse na Alemanha


Há poucos precedentes para o impasse nas eleições alemães. Os dois principais partidos do país, a coligação CDU-CDS (democratas-cristãos, conservadores) e o SPD (social-democrata) chegaram praticamente empatados, em torno de 35% dos votos. Liberais, verdes e socialistas, os outros grandes partidos, conseguiram entre 10% e 8%. Mais de 13 milhões de pessoas simplesmente não votaram. O resultado é uma tremenda queda de braço política, porque são necessários 50% + 1 dos votos do parlamento para escolher o novo primeiro-ministro do país.

O cerne do impasse é a dificuldade de conciliar o Estado de Bem Estar Social da Alemanha com o modelo econômico da competição globalizada. O crescimento do PIB alemão tem sido pífio há vários anos, o desemprego é alto e há grandes setores da população marginalizados e céticos quanto à mudanças, sobretudo no leste empobrecido. Dados os fantasmas que rondam a história germânica, a tensão social está sempre presente.

Os sociais-democratas não diferiram muito dos democratas-cristãos no poder, adotando uma série de políticas liberais e de restrição dos benefícios sociais. Por isso muitos dissidentes do SPD se juntaram ao novo Partido de Esquerda, que dobrou o número de votos. As pesquisas apontavam uma vitória fácil da CDU-CDS, que foi pelo ralo quando a líder da coligação, Angela Merkel, começou a falar em aumento de impostos para a classe média e medidas que privilegiavam os ricos - como a equalização do imposto de renda em 25%. Aliás, menos do que pago no Brasil.

Conheço muitos alemães interessados na América Latina que costumam dizer que seu país está cada vez mais parecido com nosso continente. Exagero, sem dúvida, mas as semelhanças surgem na dificuldade de formular alternativas à lógica da economia global. Não sei como a Alemanha resolverá seu impasse. Os jornais falam sobre a frustração alemã com política e reformas e na possibilidade de uma coligação entre CDU-CDS e SPD, algo que só ocorreu uma vez na história do país. Também existe a chance de Schröeder, o atual premiê social-democrata, costurar um acordo por baixo do pano e conseguir se reeleger.

De todo modo, com alianças tão frágeis será muito difícil implantar qualquer mudança significativa no modelo social alemão. O paralelo é forte com a França, em que a mesma questão foi colocada em destaque pelo "não" ao Tratado Constitucional Europeu e onde ascende o político liberal Nicolas Sarkozy como a nova liderança nacional. Ele chegou a dar os parabéns a Angela Merkel por sua vitória, mas o resultado inconclusivo não o beneficia. Como as eleições presidenciais francesas são no próximo ano, o cenário deve ser semelhante ao vizinho além-Reno.
Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons License. Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com