sexta-feira, setembro 16, 2005

O Estilo K e a Diplomacia Argentina


Passei a tarde de sexta no Iuperj, assistindo à palestra do cientista político argentino Roberto Russel, que leciona na Universidade Torcuato di Tella e na academia diplomática de seu país. Ele lançou em 2004 um ótimo livro, "El Lugar de Brasil en la Política Exterior Argentina" e falou sobre o tema de modo provocador e interessante.

Russel afirma que Brasil e Argentina deixaram de ser rivais, mas não conseguem se tornar amigos. A política externa de Kirchner seria a tentativa de conter o projeto de liderança brasileiro na América Latina através da aproximação Argentina/Chile/México.

É um movimento bastante incomum na diplomacia argentina, que quase foi à guerra com o Chile por disputas territoriais. Russel se declarou contrário a essa abordagem e defendeu um enfoque mais cooperativo, mas ao mesmo tempo repudiou a política externa brasileira: "O único lugar onde se escuta sobre a ´liderança natural brasileira na América do Sul´ é no Brasil."

Também destacou o quanto os hispano-americanos, ao menos no Cone Sul, olham com desdém para o péssimo quadro brasileiro em direitos humanos e temas sociais, área em que argentinos, chilenos e uruguaios estão bem à frente. Meus alunos costumam reclamar quando comento sobre isso, mas é a percepção que se tem na hispano-américa, mesmo em países mais pobres, como os andinos.

O debate reuniu alunos e professores do Iuperj, da PUC e da UFRJ e todos criticamos as decisões recentes do Itamaraty, em particular a prioridade concedida à campanha pela vaga no Conselho de Segurança da ONU, em detrimento da integração regional, que deveria ser o ponto mais importante da agenda diplomática brasileira.

Russel falou sobre o presidente Kirchner, mas neste ponto prefiro recomendar o ótimo artigo "O Estilo K e a Política Argentina", escrito pela correspondente do Globo em Buenos Aires, Janaína Figueiredo.

Ela analisa como Kirchner tem mantido políticas erráticas, centralizando excessivamente o poder. No fundo, é um cacique peronista vindo de uma provincia marginal, de apenas 200 mil habitantes, e tem dificuldades em lidar com as grandes questões nacionais. Ainda assim, tem resultados concretos a apresentar: renegociação da dívida externa em termos favoráveis; julgamento de crimes da ditadura militar; reforma da corrupta Suprema Corte.

Para fechar este post argentino, recomendo o filme "Memória do Saqueio", de Fernando Solanas, que acaba de entrar em cartaz. É um documentário sobre a crise argentina de 2001, assisti a ele em Buenos Aires e me impressionou bastante.

2 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Fala jogador!

Tudo bem aqui na província. Os nativos adoraram a camisa do Mv Brasil, agora entendo a razão dos líderes do movimento quando me pediram para liderar uma família nacionalista aqui.
Aquele professor argentino do Iuperj que estava lá no dia da entrevista é visitante?

Abraços,
Helvécio

setembro 18, 2005 1:31 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Salve, meu caro.

Já lhe disse que você terá uma carreira brilhante como membro do Conselho dos 13 (ou é dos 12?). Boa sorte.

O professor da banca era o Carlos Hasenbalg, que vive no Brasil há vários anos. Ele é professor do Iuperj em caráter permanente.

Mas por conta do convênio assinado entre o Iuperj e a Di Tella, está havendo um intercâmbio entre docentes das duas instituições. A Maria Regina passou um tempo na Argentina e a Ana Maria Mustapic fez o mesmo no Brasil

Abraços

setembro 19, 2005 4:43 PM  

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