terça-feira, setembro 06, 2005

Katrina: a política da tragédia



A destruição de Nova Orleans pelo furacão Katrina mostrou que no país mais rico do mundo, a distância que separa a civilização da barbárie é pequena. Um colapso social onde ficam claras as imensas desigualdades sociais e raciais dos EUA, pois a maioria dos que ficaram para trás em Nova Orleans foram pobres e negros, sem carro ou dinheiro para fugir da cidade, e sem força de pressão política para mobilizar o governo federal.

Mundo hobbesiano no qual o Leviatã não cumpriu o básico do contrato social – a proteção da vida e da propriedade dos cidadãos. As tropas da Guarda Nacional que manteriam a ordem na cidade devastada estavam no Iraque. As verbas que seriam usadas nas obras de infra-estrutura também foram realocadas para a guerra.

Tragédias naturais sempre assolaram a humanidade, mas em menos de um ano tivemos a tsunami na Ásia, o Katrina e diversos outros sinais de mudanças no clima, como os ciclones no sul do Brasil.

O colega conspirador Smart Shade of Blue debate em seu blog as evidências científicas a respeito do impacto do aquecimento global na tragédia. E o Idelber, que mora em Nova Orleans (mas por sorte está na Argentina), usa seu blog de modo inovador para ajudar os sobreviventes com informações e notícias.

Existe uma Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, cujo documento mais conhecido é o Protocolo de Quioto, ao qual aderiram 163 países, com o compromisso de diminuir a emissão de gases poluentes e o aquecimento global. Os EUA, principais poluidores mundiais, não assinaram.

Na semana passada, em meio à tragédia do furacão, passou desapercebida a notícia de que a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro estabeleceu um mercado de créditos de carbono. Trata-se de um dos mecanismos mais originais estabelecidos em Quioto.

Funciona assim: países que aderem ao tratado precisam diminuir a poluição, mas em cotas diferenciadas. Nações em desenvolvimento, como o Brasil, têm menos deveres do que as ricas. Mas estas têm a opção de, em vez de impor obrigações a suas empresas, financiar os chamados “Mecanismos de Desenvolvimento Limpo” em países pobres. Projetos como reflorestamentos, fontes alternativas de energia etc. Sai mais barato do que alterar plantas industriais complexas.

Esses projetos serão negociados no mercado financeiro e a estimativa é que movimentarão dezenas de bilhões de dólares por ano. O Brasil tem potencial para se tornar um dos principais atores desse circuito.

6 Comentarios:

Blogger Menjol said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

É um bom momento para se relembrar a obra "As Vinhas da Ira" do escritor norte-americano John Steinbeck. Aliás este excelente pensador deveria ser relembrado sempre.
Claro que vivemos agora num admirável mundo novo. O furacão Katrina não pode ser comparado com a crise econômica de 1929, o pano de fundo da obra de Steinbeck. Tampouco os Joad, família que protagoniza a obra, eram negros. Mas eram pobres!
Não só no Brasil como no mundo a pobreza tem cor. Será que os norte-americanos vão começar a questionar a absurda política internacional do seu país?

setembro 06, 2005 3:26 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Olá, Menjol.

A conseqüência política mais imediata do Katrina foi a queda nas taxas de popularidade de Bush, que estão em seu nível mais baixo. Mas se isso levará à mudanças na política externa dos EUA, são outros 500. Afinal, o 2o mandato de Bush está apenas no início e muita coisa pode acontecer no mundo até a próxima eleição, em 2008.

Abraços

setembro 08, 2005 10:06 AM  
Blogger Menjol said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Maurício, você sim é um filósofo de primeira grandeza. Se tiver tempo e estômago veja o que diz este pseudo-filósofo

setembro 08, 2005 4:11 PM  
Blogger Unknown said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Sei não Maurício, esses americanos são mais que imprevisíveis. Podem eleger Bush sabe-se lá mais quantas vezes... É so ele aparcer com uma nova ameaça nacional que não tenha causa natural.
Beijão!
PS: Poxa, fiquei muito feliz de ver que eu aprendi direitinho sobre Hobbes! :0)

setembro 08, 2005 11:47 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Menjol, obrigado... Essa nem minha mãe! Estou acompanhando o debate pelo blog do Smart Shade of Blue, que está numa boa discussão com os Olavetes.

Claudia, só Deus sabe o que será do governo Bush, mas o que me impressiona é como a política nos EUA está polarizada. Qualquer fato - Katrina, a Suprema Corte - se torna motivo de uma guerra verbal entre defensores e acusadores do presidente.

Abraços

setembro 09, 2005 10:22 AM  
Blogger Unknown said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Acho que isso é conseqüência de décadas de revanchismo Democratas x Republicanos. Com Bush é mais complicado porque ele se expõe mais (seja de caso pensado ou não). Fica fácil para os acusadores e faz com que os defensores tenham que "caprichar" mais nos argumentos para conseguirem serem levados à sério (o que deve ser uma tarefa muuuuito árdua). Lembra dos jogos de Juri Simulado? Quando você e desafiado a defender um ponto de vista inteiramente oposto ao seu? A primeira que vinha à minha cabeça era: "o ataque é a melhor defesa".

setembro 09, 2005 12:11 PM  

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