quarta-feira, outubro 19, 2005

Nenhum Leblon Existe


No fim de semana conheci numa festa uma jornalista que prepara uma dissertação de mestrado sobre telenovelas. A conversa logo girou para uma lista que comecei a elaborar com BB – e que nunca terminamos – sobre as características do Brasil das novelas. Seguem alguns itens:

- Ninguém é funcionário público, a não ser nas tramas ambientadas no interior e/ou nas novelas de época.
- Todos os patrões se dão bem com as empregadas domésticas
- Todos os patrões sabem os nomes dos funcionários de suas empresas
- O país é 90% branco, e dos 10% restantes metade é uma família negra de classe média.
- Não existem favelas. O núcleo pobre mora em subúrbios made in Projac.
- A maioria das pessoas é dona de seu próprio negócio, tirando os coadjuvantes que trabalham nas empresas do núcleo rico.
- A economia brasileira é dominada por empresas familiares que parecem ser grandes, mas das quais a gente só vê meia dúzia de funcionários, incluindo a moça que serve o café. Não existem multinacionais. Não existem estatais.
- O Brasil tem expressivas minorias nacionais (italianos, árabes, ciganos) que passam os dias vestidas em trajes típicos, dançando ritmos folclóricos e falando português com sotaque. No caso dos portugueses, as categorias não se aplicam, mas entra em vigor a regra de que serão boas pessoas, para facilitar a entrada da novela no mercado lusitano.
- A classe média tem um padrão de vida de seriado da Sony, e toma um café da manhã digno do Copacabana Palace.
- O Leblon existe.

A quem possa interessar: a foto de mestre Manoel Carlos que ilustra este post foi retirada de um site... russo! O que são “Guerra Paz” e “Os Irmãos Karamazóvi” comparados a “Laços de Família” e “Mulheres Apaixonadas” !

2 Comentarios:

Anonymous Anônimo said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

É mais fácil de digerir e entender, sem precisar exercitar muito a massa cinzenta. "Guerra e paz" é cultura e "Mulheres apaixonadas" é circo. O que o povo quer mesmo?

outubro 19, 2005 6:59 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Ock, meu caro.

Em termos, em termos. Uma boa novela ( e eu adoro as do MC) mistura drama, comédia, suspense, crítica de costumes... É diversão de qualidade, mesmo que não seja uma investigação profunda sobre a natureza humana como os romances de Tolstói.

BB,

tens razão. Precisamos desenvolver uma teoria que dê conta dos ricos neuróticos das novelas. Os problemas dos pobres costumam ser mais simples. Por favor, anote isso na sua agenda para sua próxima temporada carioca. Até lá, deve estar no ar a novela do Sílvio de Abreu.

Abraços

outubro 20, 2005 11:26 AM  

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