Terrorismo na Baixada
Policiais pertencentes a grupos de extermínio vagam durante duas horas na Baixada Fluminense e assassinam ao acaso mais 30 pessoas em represália às ações do novo coronel da PM em Duque de Caxias, que vem perseguindo a banda podre em seu batalhão. O mesmo grupo havia jogado uma cabeça decepada no pátio do quartel, alguns dias antes.
Ataques aleatórios a inocentes, com o objetivo de criar um clima de pânico que facilite a obtenção de uma meta qualquer é quase a definição clássica de um ato terrorista. Não vejo outra classificação para o que houve na Baixada.
No sábado assisti no festival É Tudo Verdade a um documentário sobre os atentados de Madri. Conversando com minha professora de espanhol, ela me contou que a Espanha mudou muito após os ataques, com medo e traumas generalizados. Contudo, o que mais me impressionou no filme foi a capacidade da população em reagir e se organizar no repúdio à violência e à manipulação do governo, em particular através das novas tecnologias de informação, como o celular e o e-mail.
No Brasil, é comum escutarmos queixas sobre a falta de politização dos nossos compatriotas. Não acho que seja o caso. Percebo que as pessoas em geral estão razoavelmente informadas e quase sempre se interessam em saber mais. Nossa grande dificuldade é a mobilização. A indignação e as preocupações sociais tendem a ficar restritas ao pequeno círculo dos amigos e parentes. Articular-se com o "mundo da rua" é mais complicado. Há uma grande desconfiança das instituições do governo, dos partidos, dos sindicatos, o que se traduz num comportamento apático ou cínico ("Não adianta, nada vai mudar, vou cuidar do meu"),
As enormes desigualdades de nosso país são fundamentais para esse quadro. Asfalto e favela, pobres e classe média/elite percebem-se mais como inimigos do que como cidadãos que compartilham uma sociedade. A imprensa tem coberto com destaque a chacina, mas praticamente não ouvi comentários sobre ela em várias rodas de conversa (incluindo de acadêmicos e cientistas sociais) por onde passei no fim de semana.
De certo modo, espera-se que na Baixada a violência seja a norma. Ela nos choca apenas quando o tamanho do massacre ultrapassa o habitual, ou quando o conflito extrapola para lugares simbólicos ou da classe média, como a Igreja da Candelária ou o ônibus 174 no Jardim Botânico. A morte de uma moça de nossa classe social, como Gabriela ou de uma freira americana, provoca muito mais repercussão do que a chacina de seis, sete, oito rapazes pobres e negros.
Na quarta-feira irei a Brasília falar a um grupo de jovens de várias partes do país, num evento da recém-criada secretaria de juventude do governo federal. Não sei se o programa permitirá, mas penso em levar essas idéias para o debate.
Ataques aleatórios a inocentes, com o objetivo de criar um clima de pânico que facilite a obtenção de uma meta qualquer é quase a definição clássica de um ato terrorista. Não vejo outra classificação para o que houve na Baixada.
No sábado assisti no festival É Tudo Verdade a um documentário sobre os atentados de Madri. Conversando com minha professora de espanhol, ela me contou que a Espanha mudou muito após os ataques, com medo e traumas generalizados. Contudo, o que mais me impressionou no filme foi a capacidade da população em reagir e se organizar no repúdio à violência e à manipulação do governo, em particular através das novas tecnologias de informação, como o celular e o e-mail.
No Brasil, é comum escutarmos queixas sobre a falta de politização dos nossos compatriotas. Não acho que seja o caso. Percebo que as pessoas em geral estão razoavelmente informadas e quase sempre se interessam em saber mais. Nossa grande dificuldade é a mobilização. A indignação e as preocupações sociais tendem a ficar restritas ao pequeno círculo dos amigos e parentes. Articular-se com o "mundo da rua" é mais complicado. Há uma grande desconfiança das instituições do governo, dos partidos, dos sindicatos, o que se traduz num comportamento apático ou cínico ("Não adianta, nada vai mudar, vou cuidar do meu"),
As enormes desigualdades de nosso país são fundamentais para esse quadro. Asfalto e favela, pobres e classe média/elite percebem-se mais como inimigos do que como cidadãos que compartilham uma sociedade. A imprensa tem coberto com destaque a chacina, mas praticamente não ouvi comentários sobre ela em várias rodas de conversa (incluindo de acadêmicos e cientistas sociais) por onde passei no fim de semana.
De certo modo, espera-se que na Baixada a violência seja a norma. Ela nos choca apenas quando o tamanho do massacre ultrapassa o habitual, ou quando o conflito extrapola para lugares simbólicos ou da classe média, como a Igreja da Candelária ou o ônibus 174 no Jardim Botânico. A morte de uma moça de nossa classe social, como Gabriela ou de uma freira americana, provoca muito mais repercussão do que a chacina de seis, sete, oito rapazes pobres e negros.
Na quarta-feira irei a Brasília falar a um grupo de jovens de várias partes do país, num evento da recém-criada secretaria de juventude do governo federal. Não sei se o programa permitirá, mas penso em levar essas idéias para o debate.
2 Comentarios:
O terror também mora aqui, companheiro. Isso é um recado de pretensa onipotência de quem tem as armas, mas não tem preparo, e por isso julga ser Deus. E pra piorar, como o papa está morto, quem é que vai dizer o contrário?
Car@s,
No Globo, Merval e Dapieve também falam da chacina como terrorismo. Mas a reação da sociedade está muito lenta. Somente agora começou a circular um manifesto e parece que se tentará organizar algo.
Abraços,
Maurício
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