Agualusa e Pepetela
Agualusa na Feira Literária de Paraty
Paulo Coelho, sai deste blog: ele não te pertence! Juro que não tenho nada a ver com isso, mas a capa do Segundo Caderno do Globo desta sexta é uma entrevista com o escritor angolano José Eduardo Agualusa. Perdi a conta de para quantas pessoas o descrevi como sendo "o melhor autor vivo em língua portuguesa".
A literatura angolana é um imenso tesouro que só agora os brasileiros começamos a descobrir. Meu contato com ela veio por acaso, quando trabalhava como repórter cultural para o Cadê?. Fui cobrir a Bienal do Livro e minha ex-chefe na Editora Nova Fronteira me recomendou o romance "A Geração da Utopia", de Pepetela, que estava sendo lançado no evento.
Entrevistei o Pepetela - um simpático senhor de cabelos brancos - que me contou histórias fantásticas de seu tempo como militante do MPLA na guerra de libertação de Angola e como vice-ministro da Educação. "A Geração da Utopia" é um épico da independência angolana, narrado através da amizade de quatro jovens que seguem caminhos divergentes diante dos acontecimentos. Uns se corrompem, outros se tornam céticos e há os que continuam a alimentar a esperança, porque "só os ciclos são eternos". Romance de primeiríssima categoria, que rendeu o Prêmio Camões ao autor. De vez em quando se menciona sua possível adaptação ao cinema. Vale ler também "A Gloriosa Família", bem humorado relato da ocupação holandesa em Angola, que foi simultênea àquela realizada em Pernambuco.
"A Estação das Chuvas", do Agualusa, é uma respécie de contraponto sombrio à "Geração da Utopia". O tema é o mesmo, mas a independência angolana é narrada do ponto de vistas de dissidentes do MPLA, que são presos, torturados e mortos. O livro é estruturado como uma biografia da poeta Lídia Ferreira do Carmo, escrita por um colega de cárcere. A persongem é fictícia, mas o retrato é tão realista que Agualusa vira e mexe é procurado por pessoas que garantem tê-la conhecido e lhe dão novos detalhes dela.
Outro ótimo romance de Agualusa é "Nação Crioula - a correspondência secreta de Fradique Mendes". O personagem do título é de Eça de Queirós, que o descreve como "o último autêntico português", homem que correu mundo e viveu várias aventuras. Uma delas seria uma permanência de alguns anos na África, que Eça não narra. Agualusa aproveitou o gancho e escreveu o périplo de Fradique ao se apaixonar por uma angolana. Na sua versão, o personagem perde o sarcasmo e a sofisticação de Eça e se torna um homem que vive intensas paixões.
Viva a África!
2 Comentarios:
Maurício, adorei sua descrição do Pepetela! Empolgante, mesmo. Vou passar numa livraria correndo, depois comento contigo.
Falando em África, queria pegar emprestado aquele CD que vc levou lá em casa um dia. Lembra?
bjs
Caros,
BB - O Oscar me elogiou muito um livro do Lobo Antunes sobre as guerras na África, mas não sabia do tête à tête com o Agualusa. Estou com vontade de buscar uma ligação com a União de Escritores Angolanos para o projeto. Ela funciona como um órgão meio sindical, meio político, no estilo ABI.
Letícia - o CD de músicas africanas está emprestado com minha estagiária, mas ela deve me devolver nesta semana. Depois, fica à sua disposição. Espero que você goste do Pepetela!
Abraços,
Maurício
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