Sobrados e Mucambos
Vista do Alto da Sé de Olinda
No fim de semana estive em Pernambuco, numa viagem de trabalho. Represento o IBASE na executiva do Fórum Nacional de Participação Popular, o que significa algumas reuniões ao longo de cada ano. Em geral nos encontramos no nordeste, porque a maioria das organizações do fórum é daquela região.
A reunião foi em Recife, mas aproveitei para visitar Olinda, que ainda não conhecia. Fiquei maravilhado com a riqueza arquitetônica da cidade, com seus sobrados e igrejas, e uma paisagem só comparável ao Caribe. Como sempre no nordeste, o contraste com a miséria é muito forte. Saindo da meia dúzia de ruas restauradas que formam o deslumbrante centro histórico, só se vê pobreza e degradação. A ausência de uma infra-estrutura razoável para o turismo também espanta. Não havia nenhum quiosque de informação e nem mesmo uma lanchonete onde se pudesse comer um sanduíche.
Também passeei um pouco por Recife. Já conhecia o centro histórico da outra vez em que estive na cidade, de modo que aproveitei o fato de estar hospedado em Boa Viagem para fazer longas caminhadas pela praia. A desigualdade é gritante mesmo para alguém habituado ao apartheid cotidiano do Rio de Janeiro. Os mucambos de Brasília Teimosa e Afogados fazem Rocinha e Vidigal parecerem bairros de classe média alta.
Minha reunião de trabalho foi apenas razoável. O objetivo era planejar um seminário nacional que construa uma agenda sobre participação da ótica das organizações da sociedade civil, mas esbarramos em vários obstáculos. Existe uma decepção consensual com o governo Lula. Só que menos acordo sobre o que fazer com relação a isso.
Em todo caso, a cabeça ferve. Minha leitura dos últimos foram as memórias do economista Celso Furtado, excelentes, das quais tratarei num próximo post. Creio que foi fundamental em sua formação ele ter nascido na Paraíba. No centro-sul, pode parecer que o desenvolvimento é apenas uma questão de aumentar a renda da população mais pobre. No nordeste, a gente sente na pele que o subdesenvolvimento é algo mais profundo e complexo, arraigado nas estruturas sociais e de dominação política.
2 Comentarios:
Quando morei em Recife vi isso muito de perto. Meus colegas na escola eram todos filhos de usineiros, empresários, tinha até uma que era neta do dono da rede Othon Palace! Enquanto isso, as empregadas domésticas faziam fila, literalmente, na porta da minha mãe só porque ela pagava um salário mínimo e dava folga aos domingos. Lá as empregadas ganham menos que o mínimo e não folgam nunca, ou seja, trabalho escravo!
Oi, Lol.
Lembro das suas histórias de Recife. É isso mesmo, e consegue ser ainda pior na Paraíba.
E pelo que acompanhei de seu blog, você teve uma belíssima experiência na Europa, com todos os sustos da viagem. Faltam só as fotos da aventura!
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