Dilbertianas
O mundo mágico da avaliação
Ontem começou no IBASE um processo de avaliação de funcionários. É o terceiro pelo qual passo na minha algo nômade vida profissional – os outros foram no Globo e na StarMedia. Uma das melhores coisas de ter trabalhado em grandes empresas brasileiras e estrangeiras é ficar vacinado contra o discurso de que essas organizações são eficientes, racionais e modernas.
Nos processos anteriores, preenchi inúmeros questionários de auto-avaliação que pareciam saídos de um corredor obscuro do Vaticano, cheios de lacunas onde eu deveria expor meus pecados e omissões. Tudo para meu bem, claro, pois o objetivo último era me tornar um profissional melhor. Aumentar minha “empregabilidade”. A Velha Igreja pelo menos me prometia o Paraíso, embora eu não queira ir para o mesmo lugar que o cardeal Ratzinger.
Também passei por métodos heterodoxos como subir em árvore, jogar cabra cega e disputar partidas de paintball, para estimular a cooperação em equipe. Bem, pelo menos me diverti, mesmo com os gerentes recusando o convite dos subordinados para fazer um confronto “chefes x empregados”.
Óbvio, ninguém gosta de ser avaliado e ter seus defeitos expostos, em especial quando está em jogo a situação no trabalho. Óbvio, todas as organizações tendem à inércia burocrática e muita gente prefere uma rotina tediosa ao risco de mudanças, mesmo que para melhor.
Ainda assim, o discurso padrão dos avaliadores é uma coletânea dos clichês da auto-ajuda empresarial, com uma pitada de sentimentalismo. Um faz de conta. Como disse Roberto Justus a um participante de “O Aprendiz”: “Ninguém é tão bonzinho assim”. Aliás, o marqueteiro do amor teve um desempenho surpreendente nesse ótimo programa. Aprendi bastante sobre administração de empresas nele – cada um tem os gurus que merece.
Estou curioso para ver como o processo se dará numa ONG. Será adaptado às particularidades do trabalho social ou seguirá os mesmos moldes do que vivi no jornal e numa empresa de internet? A melhor frase da apresentação de ontem foi dita pelo consultor contratado pelo instituto: “O que é bom para a organização é bom para os funcionários”. Ratzinger teria dado o selo da aprovação papal.
2 Comentarios:
Prezado,
Também estou curioso para ver como será essa avaliação. O fato é que ela é necessária, dado o volume de recursos que passam pelas ONGs. Eis aí um campo profissional promissor para consultores de negócios...
Carol,
o pessoal gosta de abraçar árvore, andar descalço, dançar. Esse papo de produtividade não com o povo ONG, não.
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