sexta-feira, fevereiro 25, 2005

Omnia Sunt Communia

"Vaidade das vaidades, diz Qohelet, vaidade das vaidades, tudo eh vaidade." Eclesiastes (1,2)


Hoje terminei de ler um excelente livro. Como jah tinha dito antes, resolvi ler "Q - O Cacador de Hereges", de Luther Blissett, e achei que valia a pena falar um pouco sobre ele por aqui.

Blissett nao existe -- ele eh o pseudonimo escolhido por quatro autores italianos para escrever uma serie de artigos, panfletos e este livro, que virou best-seller na Europa por razoes compreensiveis. Os quatro sao agitadores politicos e culturais (provavelmente anarquistas) e pegaram o nome "Luther Blissett" de um jogador jamaicano que jogou no Milan na decada de 80. Ha pouco tempo eles resolveram "suicidar" Blissett e agora assinam com o nome de Wu Ming.

"Q" eh um livro que deve muito a Umberto Eco, apesar de Blissett negar com todas as forcas. A historia se passa durante os quarenta anos entre a publicacao das teses de Lutero e a Paz de Augsburgo de 1555, onde travou-se na Europa uma das mais sangrentas e continuadas disputas religiosas da Historia. Neste ambiente de guerra entre Catolicos e Protestantes, surgem os dois protagonistas do livro: "Gert" (um Anabatista) e "Qohelet" (um espiao alemao a servico do cardeal Carafa). Durante quarenta anos os dois se enfrentam anonimamente. O livro viaja por grande parte da Europa -- de Munster a Londres, de Veneza a Bologna.

Como em qualquer livro de Eco, aquelas primeiras 70 (neste caso 120) paginas sao mortais -- nada acontece, o que deixa o leitor desesperado por alguma acao. Mas quando se entra no ritmo e entende-se o porque dos flashbacks e flashforwards, tudo faz sentido. Incrivelmente, o livro nao eh sobre religiao, apesar de falar dela em todas as suas paginas. A historia gira em torno das diversas formas de mobilizacao contra o sistema e da constante vigilia do poder constituido. O livro fala mais sobre o mundo atual do que sobre o seculo XVI. Eu diria que eh uma obra-prima de conspiracao, de conspiradores para conspiradores.

O livro jah foi traduzido e editado no Brasil pela Editora Conrad. Seu conteudo (junto com outros livros de Blissett), no entanto estah totalmente disponivel na internet (especialmente apropriado para quem puder imprimir o catatau de graca no trabalho). Recomendo a leitura.

Ah, "omnia sunt communia" era o grito de guerra de Thomas Muntzer, massacrado em 1525. Tudo pertence a todo mundo.

2 Comentarios:

Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Acho que já sei o que ler nas férias... Muito interessante o sumário que você fez. Todas as indicações que você deu (a Conrad, o texto gratuito) apontam mesmo para os anarquistas italianos, aliás o movimento anda forte por lá.

fevereiro 28, 2005 10:13 AM  
Blogger Wu Ming 1 said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

No, Q owes nothing to Eco. We never thought of Eco while we were writing the novel. Had we thought of him, we would say it - we always acknowledge our influences. Dozens of novels about heretics and the Inquisition have been written by Italian authors: this stuff is part of our national history. However, "The Name of the Rose" is the only one that's famous all over the world, that's why when Q is read by foreigners they instantly think of Eco. You're seeing two extreme points of a very wide range of books and cultural phenomena as though they were close to each other, but there's a huge lot of stuff in the middle separating them. During the years that we wrote Q our strongest literary influence was James Ellroy.

setembro 09, 2007 10:09 AM  

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