Relendo um Mestre
Capa: Casa dos Mann em Lubeck
Thomas Mann é um dos meus escritores favoritos. Releio seus romances como quem visita um amigo com quem tem muita conversa para colocar em dia. Semana passada mergulhei novamente em "Os Buddenbrook", que tinha lido pela primeira vez há uns 5 anos, talvez mais.
Foi o primeiro romance do autor, publicado quando tinha apenas 26 anos, e narra a decadência de uma rica estirpe de comerciantes de uma cidadezinha portuária alemã. É a história dos Mann, com poucas mudanças. Até mesmo os nomes próprios e os escândalos são os mesmos.
O romance atravessa quatro gerações e cobre todo o século XIX. É legal relê-lo depois de estudar a história da Alemanha, porque dá para pescar as referências aos eventos: as guerras contra Napoleão e contra a Áustria, a formação da União Aduaneira liderada pela Prússia, a revolução fracassada de 1848, o processo de unificação e a natureza autoritária do Estado que se forma sob Bismarck.
O centro dos Buddenbrook é a transformação de uma família de homens práticos, duros e espertos, em diletantes sensíveis, mas desajeitados. A caracterização dos personagens é excelente, com destaque para Thomas e Antoine (Tony), inspirados no pai e na tia do escritor. O primeiro representa o auge dos Buddenbrook, com seu tino comercial e sua ambição política. Mas ao mesmo tempo anuncia o declínio, com sua sofisticação cultural (e um certo pedantismo) que o colocam em conflito com os estreitos horizontes da cidadezinha. Havia sido o personagem que mais me impressionara na primeira vez que li o romance.
Nesta segunda, foi Tony. Algo fútil, orgulhosa da distinção dos Buddenbrook, mas no fundo boa gente, que sofre em dois casamentos infelizes e passa a vida saudosa de um amor de juventude por um estudante pobre, inebriado pelas idéias radicais de 1848. Essa paixão é narrada de forma muito bonita, em particular pelo uso magistral que Mann faz do Leitmotiv.
O escritor foi um grande amante da música e retirou essa técnica da ópera. No Leitmotiv, cada personagem é acompanhado por um tema - um tipo de roupa, um hábito, uma expressão de linguagem. Quando Tony diz nos momentos difíceis, "Hoje estamos sentados nas pedras", usando um código que tinha com o namorado de juventude, o leitor sorri, cúmplice.
Outra influência musical em Mann é o personagem Hanno, o último da linhagem. O tímido filho de Thomas consegue se expressar apenas através do piano - um prelúdio do que seria Adrian, o protagonista de "Dr. Fausto", um compositor que vende (ou acha que vende) a alma ao diabo, em troca de grandeza - metáfora para a Alemanha no século XX
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