terça-feira, março 15, 2005

Os Fazendeiros Felizes

Frequento um cafe perto da minha casa, onde tomo cafe-da-manha e, ocasionalmente, o espresso da tarde. Gosto de passar tempo por ali: o ambiente eh menos opressivo do que o da Biblioteca da Universidade (toda em estilo gotico) e possui conexao sem fio com a internet de graca.

Desde que o cafe abriu (em novembro do ano passado) passo por lah quase todos os dias, a caminho da Universidade ou voltando dela. O dono jah me conhece e geralmente nos cumprimentamos. Ontem, como estava muito frio e chovendo, havia poucas pessoas por lah e o dono resolveu conversar comigo.

O dono me contou que o sonho dele sempre foi abrir um cafe assim. Disse que a parte mais interessante eh que o lugar atrai todos os tipos de pessoas, especialmente por estar ao lado de uma Universidade. Papo vem e papo vai, comecamos a conversar sobre a rubiacea e sua producao. Comentei que, infelizmente, a qualidade do cafe parece ser inversamente proporcional ao nivel de desenvolvimento dos paises que o produzem. Dos cafes que jah provei, nao ha nada mais incrivel do que os da Guatemala, Etiopia e da Somalia. Logo atras, alguns cafes mexicanos, indonesios e colombianos sao tambem muito bons. Os nossos sao muito bons tambem, mas o grosso do que produzimos eh cafe de baixissima qualidade pronto para ser exportado para os EUA em massa, abaixando drasticamente os precos no mercado internacional. Ainda somos o maior produtor de cafe do mundo (de longe) e temos grande influencia nos precos.

Mas o mercado de cafe no mundo estah morrendo. O preco da saca de cafe nunca esteve tao baixo e a producao nunca esteve tao alta. Pequenos produtores estao indo a falencia e se suicidando na India, na Africa e na America Central. A maior parte da producao eh controlada por grandes corporacoes como Sara Lee, Nestle e Procter&Gamble. Para piorar, nos ultimos dois anos o Vietna decidiu plantar cafe ao inves de arroz e agora eh um dos cinco maiores produtores mundiais, o que ajudou muito pouco a manter os precos em niveis estaveis.

Varios movimentos de conscientizacao sao feitos por aqui para lidar com a queda de precos, a maioria tem a ver com a demanda. As associacoes de consumidores exigem cada vez mais que o cafe venha de pequenos produtores ou cooperativas ao inves de grandes planatacoes e que haja uma valorizacao do pequeno fazendeiro, revertendo parte dos lucros para projetos de educacao e saude nas regioes produtoras. O dono do cafe que frequento participa disso e se disse empolgado com os resultados na regiao produtora do cafe que ele compra, na Guatemala, que visitou no meio do ano passado, antes de abrir a loja.

Um amigo alemao me disse uma vez que soh comprava cafe de "fazendeiros felizes". Imagino que neste momento os unicos produtores de cafe felizes devem morar em Davos ou em Gstaad. Infelizmente.

2 Comentarios:

Blogger Julia Sant'Anna said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

BB, não sei como é aí nos EUA, mas aqui na Inglaterra o Starbucks é odiado por todos os acadêmicos idealistas. Não sei se é porque ainda sou muito otimista ou prática em relação às coisas, mas torço um pouco o nariz para essa raiva exagerada. Sei lá. Você já andou vendo a "Fair trade campaign" deles (http://www.organicconsumers.org/starbucks/)? Será que é só pra inglês ver?

março 16, 2005 7:33 AM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Por coincidência, nesta semana eu conversava com minha estagiária exatamente sobre as campanhas de Fair Trade, porque ela achou alguns sites a respeito e ficou interessada.

Me parece que é uma tendência bem mais forte na Europa do que nas Américas, mas acho que ela tem bom potencial para crescer, ainda mais em parcerias com campanhas sobre responsabilidade social e empresarial.

março 16, 2005 10:30 AM  

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