domingo, agosto 29, 2004

Olga

Continuando com a seqüência de posts cinéfilos do blog, ontem assisti a "Olga". A crítica foi muito dura com o filme, desqualificando-o como uma novela em tela grande. Injustiça. A produção foi a mais cara do cinema brasileiro e dá para ver que o dinheiro foi bem gasto: cenários e figurinos ficaram impressionantes, é um espetáculo bem montado e que emociona em vários momentos.

Como infelizmente é o usual no cinema brasileiro, o ponto fraco é o roteiro. A história de Olga é fascinante, mas os diálogos estão muito solenes e pesados. A política acaba aparecendo como algo distante, pomposo, afastado da vida real. Tem-se a impressão de que os personagens discursam, em vez de conversar entre si.

Algumas das licensas poéticas do filme me pareceram deslocadas. Filinto Müller, por exemplo, era tão covarde que jamais se encontrou cara a cara com Prestes. Os produtores poderiam também ter incluído um letreiro com a carreira posterior de Müller: ele entrou para a política e morreu como líder no Senado do partido da Ditadura Militar. O filme também poderia ter mostrado um pouco mais a bárbarie das torturas da Era Vargas. Não foram apenas choques e espancamentos. A comunista alemã amiga de Olga foi estuprada por policiais na frente do marido, que enlouqueceu depois disso.

Sobre o elenco: Camila Morgado virou, definitivamente, uma estrela. Tem carisma, beleza, uma atuação decidida. Fernanda Montenegro está ótima como Dona Leocádia, a mãe de Prestes. Gostaria que houvesse mais cenas com ela, a campanha internacional que conduziu pela libertação do filho, nora e neta foi realmente espetacular. Agora, de quem foi a idéia de escalar o Caco Ciocler para interpretar o Cavaleiro da Esperança? Se Prestes fosse daquele jeito, a Coluna não tinha chegado nem a Nova Iguaçu.

"Olga" foi o filme mais assistido no país na sua semana de estréia. É meio bizarro ver um filme sobre heróis comunistas financiado pela Globo e pelo Credicard. Na sessão em que o vi, as pessoas aplaudiam no final, emocionadas. Não acredito que o Brasil tenha experimentado uma conversão ideológica repentina, mas acho que estamos carentes de idealismo e altruísmo, num momento político em que a esperança de transformação parece ter se reduzido à velha troca de favores entre as mesmas elites de sempre.

1 Comentarios:

Blogger Carol Morand said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Concordo com tudo que vc falou sobre o filme, com uma ressalva: gostei do Caco Ciocler. Na verdade, interpretar um personagem como o Prestes beira o caricato. O cara era um general revolucionário que chegou aos 37 anos virgem! O filme mostra muitas cenas de intimidade dele com a Olga nas quais aparece um lado mais humano do Prestes. Imagino que ele deve ter se sentido meio inseguro mesmo diante da primeira mulher da vida dele. E vale lembrar que o filme se baseia no livro do Fernando Morais, em que o Prestes não tem o menor destaque, é um personagem totalmente secundário (por incrível que pareça).

Os diálogos realmente me irritaram bastante, sem falar no fato de os personagens falarem português com algumas frases em outros idiomas. Ficou um negócio meio Terra Nostra.

agosto 30, 2004 6:43 AM  

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