O Futebol Explica o Mundo
O seminário de Petrópolis parou para o jogo entre Barcelona e Arsenal, pela Copa da UEFA. As atividades foram suspensas até o fim do primeiro tempo, porque ninguém – latino-americanos, europeus, africanos, asiáticos – conseguia descolar da TV. A torcida unânime era pelo time catalão, claro. Mas por que o Barcelona é o queridinho da esquerda mundial?
Esta e outras respostas estão no livro “Como o Futebol Explica o Mundo – um olhar inesperado sobre a globalização”, do jornalista americano Frank Foer. É uma obra interessantíssima e original, que faz olhar o esporte de outro modo e lança luz sobre temas contemporâneos como a ascensão do nacionalismo extremista e o poder sem freio das empresas transnacionais.
O livro está organizado em 10 capítulos que são pequenas e saborosas reportagens independentes. Sete tratam da Europa, mas há uma sobre o Brasil, outra a respeito dos EUA e uma interessante sobre o Irã. Cada uma começa com “Como o futebol explica...” e aí vem o complemento, que pode ser “O Hooligan Sentimental”, “O Discreto Charme do Nacionalismo Burguês” ou “A Sobrevivência dos Cartolas”.
Esta última trata do Brasil. Foer usa a figura de Eurico Miranda para mostrar o fracasso brasileiro em transformar os clubes nacionais em empresas profissionais, administradas de maneira eficiente e honesta. O jornalista faz uma boa análise do fracasso de Pelé como ministro e das confusões em que se meteu o Rei.
O consolo para os brasileiros é que a corrupção também impera na Itália, onde Foer examina a ascensão empresarial e política de Berlusconi (dono do AC Milan) contra a rival família Agnelli (donos da Fiat, de meia Itália e do Juventus de Turim). Há uma hilária descrição da oposição da esquerda futebolística, embora eu ache que ele caricaturizou os comunistas italianos, que são os mais simpáticos do mundo.
As relações entre torcidas organizadas, violência, sectarismo e racismo rendem quatro capítulos ambientados na Iugoslávia, Escócia, Inglaterra e Ucrânia. Foer pega todos os espectros: desde o envolvimento dessas associações com o genocídio cometido pelos sérvios até os hooligans nostálgicos do tempo em que podiam bater à vontade e que sentem-se deslocados no novo ambiente de grandes negócios e prosperidade do futebol.
A importância do futebol para a afirmação étnica e religiosa dá um capítulo aos judeus e outro aos muçulmanos. E o modo como o esporte faz parte dos dilemas culturais dos EUA e das mudanças de identidade em curso naquele país é uma análise excelente.
Há sim. O Barcelona é a estrela de um capítulo onde são ressaltadas suas impecáveis credenciais de luta anti-fascista e compromisso com causas sociais. Inclui um exame divertido de sua relação de ódio visceral com o Real Madrid, bastião de Franco e dos conservadores. Fizemos bem em torcer pelos catalães.
6 Comentarios:
Rápido no gatilho, querido professor :)
Este já está na listinha!
bjs
Mariana
Querida Mari,
promessa é dívida!
Caro Pupo,
é o mesmo jornalista. Parece que ele tem um irmão chamado Jonathan Foer que escreveu um romance sobre hooligans. A família compartilha o gosto por futebol e bom texto.
Abraços
Caro Maurício, quanto tempo, como vai a vida de professor/doutorando/cientista político?
copa da uefa? não foi a liga dos campiões?
Caro Paulo,
a vida vai corrida, e muito. A expectativa agora é pela resposta da CAPES ao meu pedido de bolsa na Argentina, mas só devo saber o resultado em julho.
Anônimo,
tem razão, foi a Liga dos Campeões (haja torneios!)
abraços
Mais um pra minha lista também... :)
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