quarta-feira, abril 13, 2005

O Brasil na África


Lula com o presidente de Gana Posted by Hello

Lula está em sua quarta viagem pela África, marco de diplomacia presidencial. O que tenho lido sobre o continente aponta para o acerto dessa ofensiva. Para além da tradicional retórica sobre proximidade cultural e solidariedade, os africanos se transformaram em grandes parceiros comerciais do Brasil.

A África já é destino de 5% das exportações brasileiras. Parece pouco, mas impressiona quando lembramos que o Mercosul, com toda sua importância política e econômica, representa 9%. Multinacionais de nosso país como Petrobras, Odebrecht, Sadia e Vale do Rio Doce têm envolvimento de peso na África do Sul, Argélia, Angola, Moçambique, Nigéria.

O Itmaraty tem conduzido negociações com países africanos para angariar apoio ao G-20, a articulação do mundo em desenvolvimento pela liberalização dos mercados agrícolas na União Européia e nos EUA. E por fim, o Brasil busca aliados para suas pretensões de se tornar membro permanente no Conselho de Segurança da ONU.

A importância crescente da África para o Brasil contrasta com a enorme carência de informações que temos sobre o continente. No mundo ONG, isso tem levado a problemas sérios na formulação dos projetos de cooperação. Por exemplo se subestima a importância da consolidação da democracia no outro lado do Atlântico. Eleições podem ser banais no Brasil ou na Argentina, mas não é o caso em Angola, na Nigéria ou no Zimbábwe. Os próprios diplomatas e empresários se queixam de que perdem muitas oportunidades por falta de conhecimento sobre a situação atual na África.

Nas minhas leituras, me impressiono com a febre da integração regional africana. São 8 grandes organizações regionais e mais de 200 instituições supranacionais. Os resultados têm sido decepcionantes, bem menores do que na América do Sul, até pela fragilidade maior dos Estados e da infra-estrutura de transporte e comunicação. Mas o tema é interessante e tem potencial.

Entre os poderes deste mundo, o que mais se interessa pela África é a França, que tem a política externa para o continente formulada por um departamento especial da própria presidência. Na semana passada a embaixada francesa no Brasil organizou até um festival de cinema africano. Assisti a um filme muito simpático do Senegal - com uma trama que lembra as desventuras da minha tia!

O Brasil tem melhorado suas relações com a África e ainda pode fazer muito mais. Não apenas governo, mas também sociedade civil, imprensa, universidades. Fico com a declaração de mestre José Eduardo Agualusa num recente fórum de empresários e diplomatas: "Freqüentemente penso em Angola e no Brasil como dois irmãos que foram separados quando ainda eram crianças. Um partiu para terras distantes e prosperou. O outro permaneceu no vilarejo natal mas se manteve a par da vida do irmão através dos jornais e da TV. Quando um dia se encontraram novamente, o rico nada sabia sobre o parente pobre, enquanto este conhecia tudo sobre o rico, suas vitórias e dramas, e se ressentia da ignorância do irmão próspero a seu respeito."

2 Comentarios:

Blogger Renato Feltrin said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Maurício,

Excelente post - e belíssima a imagem criada por mestre Agualusa.

O abraço de sempre.

abril 13, 2005 12:12 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Salve, meu caro.

Senti falta de sua presença - neste blog e no seu. Posso apenas imaginar como estão as coisas na Era Severina.

Boa sorte no sábado! Mostre ao MRE com quantos acertos no TPS se faz um diplomata!

Abraços,
Maurício

abril 14, 2005 11:02 AM  

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