domingo, setembro 12, 2004

Pontes sobre o Atlântico

A conferência foi ótima. Houve uma imensa boa vontade dos participantes e a troca de experiência foi intensa, para não falar da empatia entre as pessoas. Como membro do secretariado da organização, trabalhei bastante - 10, 12, 14 horas por dia. Em eventos desse tipo há sempre muito o que fazer, além do fato de que eu era um dos poucos a falar as três línguas da conferência (inglês, espanhol, português) e portanto fui muito solicitado como intérprete.

Isso me deu momentos de grande realização pessoal. Por exemplo, uma sindicalista indiana vinha há meses tentando entrar em contato com o movimento piquetero da Argentina, pois ambos lidam com a questão do desemprego. No entanto, essa tentativa foi falha pela falta de indianos que falassem espanhol ou de argentinos que dominassem o inglês. Como fiquei amigo das duas delegadas, elas me pediram para intermediar as negociações. Resultado: piqueteros argentinos e sindicalistas indianos farão um evento conjunto em Buenos Aires.

Entrevistei a delegada indiana para a revista do Ibase. Num bar de hotel na África do Sul, brasileiros, indianos e irlandeses conversam sobre política e cooperação internacional. Há algo de profundamente simbólico nisso, de novas alianças diplomáticas que se formam neste início de século XXI. A propósito, os africanos vêem com muita admiração as transformações que se passam na América Latina. A pergunta que mais ouvi, como de costume, foi "Como está o governo Lula?". Nosso presidente popstar desperta mais interesse do que o Pelé.

Na África, como no Brasil, tudo termina em música. A conferência se encerrou com uma canção linda, todos aplaudiam marcando o ritmo. Os delegados africanos cantavam a letra, num dos idiomas locais, de modo que é uma música bam conhecida no continente. Perguntei a um amigo da África do Sul o que ela significava e ele me respondeu tranqüilamente, "Oh, é algo como Minha mãe fica feliz quando luto contra o capitalismo". Caí na gargalhada. O encerramento foi tão bonito que até as intérpretes choraram em suas cabines. Os três secretários do evento fomos homenageados e subimos à tribuna para receber um CD com músicas de protesto africanas. Que está tocando enquanto escrevo estas palavras, é lindo, uma mistura de jazz, gospel e ritmos locais!

Comemoramos com um jantar fantástico no Moyo, um dos melhores restaurantes da África. Ótima comida, ótima conversa, ótima companhia. A dança e a música foram tão contagiantes que os funcionários locais se juntaram aos brasileiros (e a uma ou outra argentina renegada). É impossível não adorar um povo assim e torcer para que as pontes sobre o Atlântico que começamos a construir tenham vida longa!

4 Comentarios:

Blogger Fred Leal said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Pô Mauricio, GRANDE VIAGEM.

Mais detalhes serão largamente apreciados. Onde os veremos? Hehehe.

setembro 13, 2004 2:14 PM  
Blogger Glauco Paiva said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Caro Mestre,
Para variar, seus relatos são sempre ricos. Seus últimos posts vêm juntar-se algumas outras coisas que estou vendo e lendo... talvez eu tire da gaveta meu projeto de mestrado sobre comunicação e violência em 2005! Mais uma vez, parabéns, véio! E longa vida às pontes do Atlântico!

setembro 13, 2004 5:59 PM  
Blogger Maurício Santoro said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Caros,

legal saber que vocês gostaram. As fotos já estão no meu micro e devem entrar no blog tão logo eu aprenda a usar a tecnologia. Irei postar mais detalhes da viagem ao longo da semana. Abraços!

setembro 14, 2004 11:56 AM  
Blogger Glauco Paiva said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Mestre,
Caro Maurício,
A ver se Bush consegue se reeleger... aí a gente pode se perguntar: "que final é aquele?!"
Um abraço!

setembro 14, 2004 5:12 PM  

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