domingo, setembro 12, 2004

África à primeira luz

Comecemos pelo começo. Já no vôo para Johannesburg vislumbra-se um novo mundo, com muitos passageiros africanos, indianos e chineses - apesar de todo o progresso nos transportes, os viajantes para o Oriente continuam a seguir a rota do Cabo, igualizinho aos navegantes de séculos atrás. No aeroporto, outra novidade: a presença de vários muçulmanos, presença marcante na África. É fascinante vê-los rezando em seus tapetes, ou desfilando com roupas típicas e longas barbas.

Na troca de dólares por rands e no registro no hotel, as primeiras dificuldades. Na África do Sul, como num certo país que a gente conhece bem, as regras não são muito definidas e a burocracia é excessiva. Funcionários diferentes dizem coisas diversas sobre o mesmo assunto. O inglês é apenas um dos 11 idiomas oficiais dos sul-africanos e a maioria o fala como segunda língua. A comunicação nem sempre é fácil - levei tempo até explicar aos recepcionistas que o sobrenome "Melo" não é um prenome e pode ser usado tanto por homens quanto por mulheres.

A África do Sul é o país mais rico do continente e Johannesburg, sua cidade mais cosmpolita e importante, centro econômico, espécie de São Paulo construída a partir de minas de ouro e de diamante. Apesar disso, a infra-estrutura deixa muito a desejar. O hotel de luxo onde realizamos a conferência tinha um business center que simplesmente não funcionava. A conexão de Internet, por exemplo, era tão lenta que não permitia que eu abrisse os sites, quanto mais lesse e respondesse e-mails. Os cyber-cafés não foram muito melhores, como sabe quem leu meu post anterior.

Mas a riqueza humana e cultural do país, e do continente, é apaixonante. Aos poucos, fui conhecendo os delegados à conferência, pessoas da África do Sul, Angola, Gana, Moçambique, Malawi, Tanzânia, Zimbabwe... Da América do Sul, brasileiros, argentinos e uruguaios. O clima durante os três dias de trabalho foi excelente, com muitas conversas, brincadeiras, simpatia, solidariedade à flor da pele.

Os africanos adoram o Brasil, embora não tenham tanta informação sobre nosso país - eles nem preciso dizer, são desconhecidos quase completos para nós. No entanto, à medida que conversamos, descobrimos semelhanças impressionantes, como irmãos ou primos que passaram muito tempo afastados e de repente se reencontram. Na bela definição do embaixador Alberto da Costa e Silva, África e Brasil são as margens de um rio chamado Atlântico. Pode-se dizer que nosso objetivo com a conferência foi construir algumas pontes.
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