segunda-feira, agosto 30, 2004

O País dos Tenentes

Partindo dos comentários da Lol e da Scarlett, também acho que “Olga” tem um monte de problemas, mas já fico satisfeito de ver a história brasileira nas telas, com as pessoas lotando os cinemas, aplaudindo e depois conversando sobre o que viram. Isso é muito, muito bom.

Há um outro filme que trata do Prestes, se chama “O País dos Tenentes”, de João Baptista de Andrade (passa no Canal Brasil da Net). Paulo Autran interpreta um general que participou do golpe de 1964 e, moribundo, relembra os tempos de juventude, quando tomou parte das rebeliões tenentistas e da Coluna Prestes. A trajetória é significativa: os tenentes esquerdistas dos anos 20 descambaram quase todos para a direita. O contraponto ao personagem de Autran é um de seus colegas tenentes, vivido pelo ator Buza Ferraz. Ele é o personagem que se mantém fiel aos ideais e acaba assassinado pelos integralistas.

É um filme bem interessante, embora também não aprofunde o retrato do Prestes. Noves fora os hábitos sexuais do cavaleiro da esperança (ele demorou para começar mas depois ficou bem animadinho: teve uns 10 filhos) como é que o sujeito se alia ao Vargas em 1945, passando por cima de tudo que ele fez com Olga e com seus colegas comunistas? Há até uma foto famosa dos dois num palanque e parece que Prestes segura o microfone para Vargas. Ainda vamos chegar à conclusão que heroína mesmo era dona Leocádia...

Acho que o cinema brasileiro tem uma certa dificuldade em fazer a ponte entre política e vida pessoal (ao contrário do que ocorre nos filmes argentinos ou italianos, por exemplo). No caso de “Olga” ficou claro que a roteirista quis marcar o conflito entre as duas, de modo que a política acaba aparecendo como algo contrário à vida - como disse Oscar Wilde, o socialismo é uma boa idéia, mas exige noites demais em reuniões. OK, é um tema válido, mas digo de cadeira que para qualquer militante que se preze, a participação nas questões mais amplas da sociedade é uma parte essencial da vida e da felicidade. São coisas que se complementam.

Em “Olga” isso às vezes soa um tanto forçado, como no rompimento entre ela e seu namorado Otto Braun, que no filme é o protótipo do homem de classe média, preocupado com casamento e filhos. Pois bem, sabem o que ele fez após se separar dela? Foi para a China, se juntou ao Mao e foi um dos poucos ocidentais a participar da Longa Marcha! Mestre Hobsbawm, que foi colega de ambos no Partido Comunista Alemão, cita Olga e Otto como um exemplo de casal que só poderia ter existido no século XX.

1 Comentarios:

Blogger Carol Morand said... Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com

Também nunca engoli essa história do Prestes se aliar ao Vargas enquanto a Olga estava num campo de concentração. Antes mesmo de ser solto, ele disse a um repórter: " O sr. Getúlio Vargas tem dado provas de suas boas intenções." E depois ainda fez um discurso no Estádio do Pacaembu defendendo o regime varguista. De fato, o Prestes devia ser um homem peculiar...

agosto 30, 2004 9:20 PM  

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