Ilusões Armadas
Abrindo os olhos...
Vi em seqüência dois filmes que tratam dos movimentos armados nos anos 70: o brasileiro "Cabra-Cega" e o italiano "Bom Dia, Noite". Além do tema semelhante, a estrutura também é parecida, ambos são ambientados quase por completo em um apartamento, misturando ficção e imagens jornalísticas. O resultado é desigual: o brasileiro é ótimo, o italiano, ruim.
"Cabra-Cega", de Toni Venturi, é protagonizado por Tiago (interpretado pelo excelente Leonardo Medeiros) um guerrilheiro que foi ferido e se recupera no apartamento de um simpatizante de sua organização política. Tenso, mal-humorado e paranóico, ele aos poucos se abre para sentimentos mais ternos ao se apaixonar por Rosa, a militante encarregada de ser sua enfermeira.
Simultaneamente, a situação política se deteriora - é o governo Médici e a organização dos dois está sendo dizimada pela repressão - até o fim catártico que me deu um nó na garganta e que foi aplaudido de pé em festivais. O jogo de cabra-cega, além de render uma das mais belas cenas do filme, é também uma metáfora para as díficeis escolhas dos anos de chumbo, quando se caminhava na escuridão. Destaque para a ótima trilha sonora, como o dueto de Chico Buarque e Fernanda Porto em "Roda Viva".
"Bom Dia, Noite", de Marco Bellocchio, é a reconstituição do seqüestro e assassinato do ex-primeiro-ministro Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas. Poderia render uma grande história, mas o roteiro não decola, tratando os brigadistas como robôs fanáticos e Moro como um bom velhinho, quase santo. Saí do cinema sem entender como jovens de um país democrático (ainda que com um regime para lá de corrupto e ineficiente) pudessem cair na trágica ilusão armada das BVs.
0 Comentarios:
Postar um comentário
<< Home